Ao lado da Igreja, o antigo colégio jesuíta, mais tarde transformado no quartel de B.C.5, e que hoje é ocupado pela Universidade Nova de Lisboa.
Foto da net.
Aviso aos amigos: Por muito absurda que pareça esta história, é absolutamente real.
Primeira Parte
No início de 41, Manuel era um jovem de 23 anos e estava
prestes a terminar a tropa, e passar à reserva, no Batalhão de Caçadores 5 em
Campolide. Nessa altura porém, uma certa manhã, ao
levantar-se, deu por falta das botas. Quando ele viera para a tropa, o Sr.
Américo, tinha-lhe dito “Manuel, tem cuidado com as tuas coisas no quartel.
Anda por lá, filho de muita mãe e de vez em quando, algumas coisas desaparecem.
Se te faltar alguma coisa, não te queixes, tira essa mesma coisa a quem te
ficar mais perto. Ele tirará a outro e no fim, tudo estará certo”.
Ele ouviu
mas nunca lhe tinha faltado nada e aos poucos foi deixando de se preocupar.
Naquele dia porém, não tinha botas para a formatura e como tinha acordara
depois dos outros, já não podia tirar as botas de ninguém. A dois dias de sair
tropa, Manuel, teve que participar a “perda” das botas. E tinha que pagar umas
botas novas ao exército.Como porém ele não tinha dinheiro para pagar as botas, e havia falta de mancebos nos quartéis, por via do “sangramento” para os Açores e Cabo Verde, foi-lhe proposto que ele poderia pagar a dívida ao estado com mais dois anos de tropa, voluntária. Sem outra alternativa, Manuel aceitou.
Meses depois, em Junho, num dia de licença, o Manuel, saiu e depois de várias voltas pela cidade, pensou que estava farto da vida da tropa, e que não estava para continuar mais tempo no quartel.
Decidido, mas sem dinheiro para o comboio, resolveu seguir a pé para a terra. Não seria uma viagem rápida, mas também não tinha pressa. Lá era certamente o primeiro sítio onde iriam procurá-lo. E foi andando, ficando um dia ou dois nas quintas que lhe apareciam no caminho. O trabalho do campo não tinha segredos para ele, e assim ganhava algum dinheiro, além de encher a barriga. E foi deste modo que nos primeiros dias de Agosto chegou à sua aldeia, Carvalhais, no concelho de S. Pedro do Sul. Se a mãe ficou surpresa, porque pensava que o filho estava no quartel, Manuel não ficou menos surpreso ao saber que ninguém o tinha ido procurar. Ele não sabia, que na confusão reinante do período de guerra que se vivia, ninguém dera pela sua falta. E quando o capataz da seca, chegou à aldeia para o engajamento de pessoal para a próxima safra, Manuel integrou-se no grupo.
21 comentários:
A mim roubaram-me a fronha da cama. Queixei-me e riram-se de mim. No dia seguinte rapei uma que estava próxima e guardei-a no cacifo.
Ninguém se queixou e nem sei se deram pela falta.
Eu que nunca roubei nada a ninguém, desta vez tive de me valer do mesmo esquema.
«Quem rouba a ladrão...tem cem anos de perdão...»
Que coisa! cada uma acontece! bjs,chica
Com o tempo começamos a sentir saudades de todos amigos ,
que passaram em nossas vidas e que ainda permanece.
Estou dando uma volta num passado não muito distante
espero que goste dessa fase de recordar é viver.
Feliz Domingo.
Beijos no coração.
Evanir.
Na tropa, é um erro dos mais perigosos
acordar depois dos outros...
(Ao Luís gamaram-lhe a almofada
a mim quase que me roubavam a alma
mas saí ileso
penso)
Mais uma vez saio daqui deliciada com a sua história.
Conheço uma que mete botas, mas não é uma história de tropa é uma história de aldeia, melhor: uma estória, que foi real. Aconteceu mesmo, segundo a minha avó contava o meu avô andava no campo e começou a cantar uma cantiga (como era costume naquele tempo) e a dada altura a cantiga dizia "calça as botas e vai-te embora". Um primo meu que andava descalço (como era vulgar) pensando que era para ele calçou as botas e foi p'ra casa.
Abraço.
Felizmente escapei à tropa.
Não queria perder dois anos numa coisa sem sentido.
E consegui.
Boa semana
Quando em 1962, alguém me levou para a escola de fuzileiros, logo na recruta faltou-me uma toalha de rosto, queixei-me ao sargento, que me respondeu: (Desenrasca-te que és fuzileiro), nesse mesmo dia fui à corda onde várias estavam a secar e foi só escolher, em vez de uma, vieram duas comigo, durante mais seis anos, nunca mais me faltou nada, nem comida, nem dinheiro, nem namoradas, aprendi a desenrascar-me!
O meu abraço.
Cara Elvira, dei umas boas gargalhadas com a sua história. Dois anos de trabalho para pagar umas botas é que me parece um castigo muito grande.
Beijinhos, uma linda semana
Ruthia d'O Berço do Mundo
Por causa de um par de botas,
seguiu a tropa o Manuel
por causa de tantas batotas
há muita gente sem farnel!
Tenha uma boa tarde amiga Elvira, um abraço.
Eduardo.
Imagine ter que passar mais tempo no quartel por causa de umas botas...
rsrs
Um conto genial Elvira
Gostei
Elvira
Essas histórias são verdadeiras e representativas de um tempo em que o arbítrio era a lei no "país do respeitinho" (definição certeira do O'Neill) que mandava estar caladinho.
Um beijo
Não quis ouvir o alerta do Sr. Américo e olha só o que aconteceu. Na tropa é preciso ser esperto, acordar sempre antes dos outros.
Um beijo Elvira!
Ótimo mês de setembro pra si e todos os seus.
Na tropa de outros tempos a Lei era mesmo essa, e quem acusasse uma falta de material ou tivesse por pagar algo, ou alguma viatura, danificada, teria que a pagar com mais tempo de tropa, o que para quem detestava a tropa, como eu, era o pior castigo do mundo.
Cumps
Oxalá o Manuel não tenha arranjado um grande "par de botas"! :)
(estou a brincar)
Vou esperar a continuação com muito interesse. Quem sabe a deserção provocada pelo penoso pagamento do par de botas, não tenha posto no caminho do Manuel, o amor da sua vida!
Desculpe, Elvira...Lá estou eu com o meu romantismo incurável!
Um abraço amigo.
Janita
Elvira, queria pedir-lhe um favor. Pode deixar-me aqui ou lá no meu blog, como lhe der mais jeito, o link do blogue desse seu amigo que publicou algo sobre o Cais do Ginjal?
Já andei a ver na sua lista e não consigo descobrir. Obrigada!
Janita
Oi Elvira,
Que interessante. Aqui eu não sei, pois meu filho foi dispensado, porque a turma dele ninguém. Fiquei aliviada pois já estava na faculdade pública e iria atrasar seus estudos.
Beijos
Dorli
Boa noite Elvira.
Só agora reparei no aviso que deixou, que a história que conta é real.
Beijos.
Quão cara, é uma bota!
Mais uma história...vou lá, ler a continuação!
Um abraço, Elvira.
OI ELVIRA!
ESTOU AQUI LENDO E FOSTANDO, VOU PARA A SEGUNDA PARTE.
ABRÇS
-http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Uma delícia poder ler este género de relatos!
Bjo, Elvira :)
Nossa, que botinhas caras Elvira. Dois anos de trabalho?
Abraços,
Furtado.
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