NOTA
AMIGOS, NÃO SEI O QUE ACONTECEU QUE PERDI TODOS OS VOSSOS LINKS.
TENHO ANDADO A RECUPERÁ-LOS MAS É DEMORADO. POR ISSO NÃO TENHO FEITO AS VISITAS HABITUAIS. AS MINHAS DESCULPAS.
Tanto que a pobrezinha sofreu por amor do Chico. Quando percebeu quão
falsas tinham sido as suas promessas, desinteressou-se da vida. Era costureira.
Deixou a costura. E olhe que tinha muita freguesia. E foi para o Terreiro do
Paço vender cartas. Mas passava horas e horas a olhar o mar, e de tanto o
olhar, os seus olhos castanhos foram ficando da cor do próprio mar. Como se os olhos quisessem manter viva a esperança que o seu coração já
sepultara.
A voz de Rita era apenas um murmúrio, enquanto velávamos o cadáver da infeliz. Desde
aquele dia em que a vira doente, aproveitando as minhas férias, tinha ido todos
os dias visitá-la e fizera amizade com a Rita, talvez a sua única amiga e
vizinha.
Mas só hoje, depois da sua morte, e ali na presença do seu corpo, Rita me
contara a história da pobre Esperança.
Não pude evitar as lágrimas. E pensei que se há amores que são a nossa
razão de viver, outros pelo contrário tiram-nos a vida….
Depois de muito procurar o Chico conseguira finalmente saber onde vivia
agora a Esperança e, ansioso, seguiu num táxi a caminho de sua casa. Estava
nervoso e emocionado. Ia finalmente rever a “sua” Esperança, depois de quase 30
anos. Dava-se conta que apesar do seu casamento, do abandono a que a votara,
ele sempre sentira a doce e meiga rapariga como uma “coisa” sua. Durante todos
os anos em que remoeu o seu remorso, sempre o fez convicto de que ela estava à
sua espera. Jamais passara pela sua cabeça, que a jovem podia ter casado, ter
filhos, uma família, enfim… E se por momentos essa ideia o assaltava, ele logo
a afastava como quem tira um obstáculo do seu caminho.
O carro acabara de parar junto a uma modesta habitação. Pagou a corrida e
bateu à porta. Depois, reparou que estava só encostada e, como ninguém vinha
abrir, empurrou a porta e entrou. Quedou-se na ombreira, paralisado pela
surpresa, o rosto lívido.
A primeira coisa que os seus olhos viram, foi a urna, iluminada por duas
lamparinas. No chão, uma coroa de flores. A um canto, duas mulheres conversavam
baixinho enquanto velavam a aquela que ele reconhecera imediatamente como sendo
a “sua” Esperança. As duas mulheres olharam-no e depois trocaram um olhar entre
si como quem pergunta:
-“Quem será?”.
Não lhes ligou. Com passos vacilantes, aproximou-se da urna. Olhando a
imensidão de rugas no rosto feminino, bem como a pobreza à volta, deu-se conta
que a vida não tinha sido nada fácil para a mulher. Sentiu uma punhalada no
peito e um nó na garganta.
Quem sabe não fora ele o causador daquele infortúnio?
E pensava nos sonhos que arquitectara no caminho até ali. Tinha chegado
tarde para pedir perdão, tarde para tentar compensá-la dos anos de espera,
tarde para viver, enfim, o sonho da juventude. Havia chegado atrasado! Era como
que um castigo do céu. Já era tarde quando se arrependeu do casamento e era
tarde para chegar ali.
Como num filme, passou-lhe pela memória a recordação de todos aqueles anos
desde que a conhecera. Uma lágrima rolou pelas suas faces. Nem sequer podia ter
o consolo do seu perdão.
Os olhos da morta, intensamente verdes, pareciam dois lagos de água.
Verdes? Mas não eram castanhos os olhos da Esperança? Ele tinha a certeza de
que eram castanhos, um quente e belo castanho dourado. E, no entanto, agora
eram verdes. Como podia ser? Seria que até a cor dos olhos da mulher que tanto
amou, ele não recordava direito? Até ele chegou o murmúrio da mulher mais
velha.
- Faz-me aflição ver assim a pobrezinha. Mas não consegui fechar-lhe os
olhos.
- Eu também tentei e não o consegui. É como se ela esperasse por
alguma coisa ou alguém – respondeu a outra mulher, bem mais jovem.
Chico estremeceu. Afinal ele não se enganara. Ela esperara-o toda a vida e
continuava à sua espera mesmo na eternidade.
A dor foi tão grande que cambaleou.
Continua
15 comentários:
Deus do céu! Como é que esta novela vai terminar?!
Fico à espera...
Triste história, amiga! Com certeza que a Esperança está ainda à espera do seu amado e vai ser ele que lhe fechará os olhos. Quer mostrar-lhe que a esperança de o ter de volta nunca morreu. Aqui estarei para o final. Beijinhos,Elvira e uma boa semana
Emília nunca morreu
É uma história linda mas, muito triste!
Bjs
Oi Elvira!
Menina, eu estou em débito com os amigos da blogosfera! Te confesso que só li dois capitulos desse novo conto. Aos poucos estou tentando voltar, mas tô muito enrolado. Me perdoe!
Como os homens são egoístas, não é mesmo Elvira? (rs*)
Coitadinha esperando e ele somente pensando no "seu" perdão. Valha-me!
Parabéns pelo aniversário da netinha! E sinto pela perda da sua tia! Há dia de alegria e dia de tristeza!
Beijus,
Por mim, bem poderia cair fulminado pelo remorso...
Boa semana
É uma história muito triste,
mas muito bem descrita.
Desejo que esteja bem.
Bj.
Irene Alves
Na vida todos dão cabeçadas, e essas têm consequências que muitas vezes não esperamos nem desejámos...
Abraço do Zé
Emocionante vai ficando a cada capítulo
e o gancho dos olhos que de castanhos ficaram verdes aguçou a curiosidade
... estou adorando
abraços Elvira
Olá, estimada Elvira!
Como estão todos vocês?
Enfim, quem espera, desespera, e até a cor dos olhos muda, já para não falar no coração amargurado.
Mas, Esperança estaria mesmo morta?
Vejamos, então, o que vai acontecer ao Chico.
Beijos, com estima.
Coitada da pobrezinha,
De tantas horas a olhar
Cor verde que nos seus olhos tinha
Ficaram da cor do mar!
Há alguns anos atrás, dois compadres alentejanos, do Alentejo para Lisboa, passaram pelo Barreiro, junto a um prédio muito alto. Um diz para o outro, olha compadre quando eu era moço trabalhei nesse prédio e cai lá do último andar para chão. Pergunta o outro compadre e não morrestes! Não sei há tanto tempo, já não me lembro!
Um abraço para você amiga Elvira.
Eduardo.
Elvira
Mas que clímax tão inesperado! Parabéns por me ter surpreendido.
Beijos
Confesso que não esperava esta reviravolta!
Estive a ler também o capítulo anterior, e nada me fez prever que o conto evoluísse neste sentido.
Está muito bem arquitetado! Surpreendente, mesmo.
Aguardemos, para ver como termina, ou, pelo menos, como continua.
Um bom fim de semana.
Um abraço
Olá,
Muito triste a história. Perdi alguns capítulos, agora virei todos os dias até ver o final.
Beijos
Lua Singular
Chico, um nome muito de romance. Vamos a ver que fim vais preparar para este personagem.
Como argumentas! Como crias novas perspectivas, quando parece que tudo vai acabar surgem novos planos, que bom, isto promete.
Um grande abraço
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