Se llamava Manuel, nació en España,
su casa era de barro, de barro e caña.
Las tierras del señor humedecían
su sudor y su llanto dia tras dia.
Introduzi a 1ª quadra dum belíssimo poema de Serrat para falar de um certo Manuel, que não nasceu em Espanha, mas cuja vida foi igualmente sofrida. Chamava-se Manuel, nasceu no interior norte deste país, que para alguns – cada vez menos - é um jardim á beira-mar. Quarto filho de uma pobre mulher que nunca conheceu marido, não conheceu escola. Começou a trabalhar ainda menino. Os filhos do patrão, ensinaram-lhe a ler e a escrever. A meninice e a juventude ficou para trás nessa pequena aldeia, no dia em que imigrou para o sul procurando melhor vida. Na margem sul do Tejo, começou a trabalhar numa seca de bacalhau. Aí conheceu a mulher com quem casou e que viria a ser a companheira de toda a vida. Sua casa não era de barro, mas era um barracão de madeira, assente em pilares de cimento á beira-rio. Era um barracão sem água nem luz, mas que o patrão lhe tinha cedido e do qual não pagava renda. Aí lhe nasceram três filhos em menos de três anos. Com autorização do patrão, rompeu ao mato um bocado de terreno para semear alguma coisa que lhe ajudasse a criar os filhos. Com as próprias mãos, abriu um poço, para regar o terreno e para ter água em casa. Trabalhava dia e noite disfarçando as lágrimas e a revolta em piadas brejeiras, e em brincadeiras carnavalescas. Adorava futebol. Lembro-me que não tínhamos rádio e que ele construiu uma engenhoca a que chamava galena, e que lhe permitia com uns auscultadores ouvir os relatos de futebol. Pegou a vida pelos cornos, apesar da sua figura franzina. Foi o claro exemplo de que os homens não se medem aos palmos. Anos mais tarde, as filhas casadas, a idade da reforma chegou com mais uma provação. A mulher, companheira de sempre, sofreu um AVC e ficou paralisada. E Manuel começou uma nova luta. Tratar da mulher e levar para a frente a casa. Teve a ajuda dos filhos, mas apesar de toda a boa vontade, eles tinham as suas vidas, as suas casas e famílias e o que faziam era só isso. Uma ajuda. Mas ele continuava alegre, sempre de sorriso nos lábios que se estendia ao seu olhar vivo e iluminava toda a sua face enrugada. Com a paixão pelo futebol, e pela vida, costumava dizer com uma certa graça que sabia que havia de partir um dia, mas que ia á força, porque de vontade a morte nunca o apanharia. No fim da vida teve ainda uma provação maior. A sua má circulação levou-o à amputação de uma perna, depois de intenso sofrimento, e por fim sentiu a mágoa de não cuidar até ao fim da companheira, paralisada e apanhada nas malhas do Alzheimer Chamava-se Manuel, nasceu em Portugal, partiu em 2009 com 92 anos, e eu tenho um enorme orgulho em ter tido a sorte de ser sua filha. E uma saudade sem fim.
NESTE DIA QUE SE CONVENCIONOU SER O DIA DO PAI, COMO SE O HOMEM QUE RECEBE A GRAÇA DE SER PAI NÃO O SEJA ATÉ AO SEU ÚLTIMO SUSPIRO, DESEJO A TODOS OS MEUS AMIGOS QUE O SÃO QUE TENHAM UM DIA MUITO FELIZ.
su casa era de barro, de barro e caña.
Las tierras del señor humedecían
su sudor y su llanto dia tras dia.
Introduzi a 1ª quadra dum belíssimo poema de Serrat para falar de um certo Manuel, que não nasceu em Espanha, mas cuja vida foi igualmente sofrida. Chamava-se Manuel, nasceu no interior norte deste país, que para alguns – cada vez menos - é um jardim á beira-mar. Quarto filho de uma pobre mulher que nunca conheceu marido, não conheceu escola. Começou a trabalhar ainda menino. Os filhos do patrão, ensinaram-lhe a ler e a escrever. A meninice e a juventude ficou para trás nessa pequena aldeia, no dia em que imigrou para o sul procurando melhor vida. Na margem sul do Tejo, começou a trabalhar numa seca de bacalhau. Aí conheceu a mulher com quem casou e que viria a ser a companheira de toda a vida. Sua casa não era de barro, mas era um barracão de madeira, assente em pilares de cimento á beira-rio. Era um barracão sem água nem luz, mas que o patrão lhe tinha cedido e do qual não pagava renda. Aí lhe nasceram três filhos em menos de três anos. Com autorização do patrão, rompeu ao mato um bocado de terreno para semear alguma coisa que lhe ajudasse a criar os filhos. Com as próprias mãos, abriu um poço, para regar o terreno e para ter água em casa. Trabalhava dia e noite disfarçando as lágrimas e a revolta em piadas brejeiras, e em brincadeiras carnavalescas. Adorava futebol. Lembro-me que não tínhamos rádio e que ele construiu uma engenhoca a que chamava galena, e que lhe permitia com uns auscultadores ouvir os relatos de futebol. Pegou a vida pelos cornos, apesar da sua figura franzina. Foi o claro exemplo de que os homens não se medem aos palmos. Anos mais tarde, as filhas casadas, a idade da reforma chegou com mais uma provação. A mulher, companheira de sempre, sofreu um AVC e ficou paralisada. E Manuel começou uma nova luta. Tratar da mulher e levar para a frente a casa. Teve a ajuda dos filhos, mas apesar de toda a boa vontade, eles tinham as suas vidas, as suas casas e famílias e o que faziam era só isso. Uma ajuda. Mas ele continuava alegre, sempre de sorriso nos lábios que se estendia ao seu olhar vivo e iluminava toda a sua face enrugada. Com a paixão pelo futebol, e pela vida, costumava dizer com uma certa graça que sabia que havia de partir um dia, mas que ia á força, porque de vontade a morte nunca o apanharia. No fim da vida teve ainda uma provação maior. A sua má circulação levou-o à amputação de uma perna, depois de intenso sofrimento, e por fim sentiu a mágoa de não cuidar até ao fim da companheira, paralisada e apanhada nas malhas do Alzheimer Chamava-se Manuel, nasceu em Portugal, partiu em 2009 com 92 anos, e eu tenho um enorme orgulho em ter tido a sorte de ser sua filha. E uma saudade sem fim.
NESTE DIA QUE SE CONVENCIONOU SER O DIA DO PAI, COMO SE O HOMEM QUE RECEBE A GRAÇA DE SER PAI NÃO O SEJA ATÉ AO SEU ÚLTIMO SUSPIRO, DESEJO A TODOS OS MEUS AMIGOS QUE O SÃO QUE TENHAM UM DIA MUITO FELIZ.
17 comentários:
Comovente , este seu belissimo texto.
Luz e paz para o seu pai e um apertado abraço para si, amiga
Um lindo e comovente texto. Uma merecida homenagem a um homem de bela personalidade: um pai com "P" maiúsculo, marido extremoso, pessoa íntegra. Fez-me recordar o meu, que teve essas qualidades e do qual também muito me orgulho.
Parabéns, lindo dia, Elvira!
Como Pai e como filho, agradeço a partilha e o desejo expresso no post comovente.
Bem-haja.
Tudo de bom.
Um texto muito bonito, tão bonito quanto o é a amiga, filha deste grande Homem. Saí do blogue do Flores sem voz, de lágrimas nos olhos e aqui rompo a chorar. Que texto tão comovente perpassado de orgulho, de gratidão, de amor!Uma vida de luta mas também de muito amor.
Também o meu pai se chamava Manuel.Deixo-te um abraço do tamanho do mundo, beijinhos e o desejo de que continuemos amigas até ao fim dos meus dias. Gosto muitode ti, Birinha!
Felizes daqueles filhos que tiveram a sorte de terem pais com essa garra, com essa coragem infinita de cuidar do seu crescimento e educação, esses pais nunca se apagarão da nossa memória, gostei muito do seu texto!
O meu abraço
Me sumo a esos profundos sentimientos.
Un abrazo, amiga.
Boa tarde, Elvira
Estive a ler os capítulos anteriores de Vidas Cruzadas, que ainda não tinha lido.
A história continua apaixonante.
Terminei com este belíssimo texto, homenagem ao Manuel, um Homem com "H" grande! (O meu Pai também se chamava Manuel)
Já conhecia, em parte, esta sua descrição, e acho que a minha amiga tem toda a razão para sentir orgulho naquele que foi seu Pai.
Continuação de boa semana.
Um abraço
*
Elvira
,
e um mar de emoção,
entrou em mim,
fui filho, sou Pai,
como te compreendo !
,
comoventes conchinhas,
ficam,
*
Oi Elvira
Fantástico quando sabemos e lemos a respeito da existência de um homem assim, trabalhador honesto e honrado que lutou pelo pedaço de terra e soube fazer dele seu ganha-pão.
Toda a honra a seu pai ,não só nesse dia mas pra sempre.
Pungente texto escrito com alma e orgulho.Parabéns Elvira.
Penso que todos os pais deveriam se mirar nele.
abraços
Elvira!
Adoro essa linda canção do Serrat, que tão bem a interpreta.
E fiquei a admirar este homem de rija têmpera que a vida não vergou.
É maravilhoso sabermos que tivemos um pai que nos deixa esta saudade.
Beijinho
Um grande homem que lutou e que foi feliz, marcando o seu tempo no mundo.
Espero que o seu dia do Pai tenha sido excelente. :)
Como Alves Redol caracterizou, foi um Homem que nunca foi menino.
Texto comovente, tempos durissimos, vidas enormes.
O sacrifício das suas vidas, é para que não se repita todas as dificuldades que os seus pais e já agora os meus passaram, mas sinceramente não sei o que nos espera a todos.
Vejo sombras no horizonte.
Um abraço
Um texto muito comovente que relata a vida de um homem de bem.
Bela homenagem a seu pai!
Um abraço.
Eu imagino mesmo Elvira, o orgulho que você tem desse Pai com "P" maiúsculo.
Esse homem de bem, valente, fiel, religioso, que não abandonou de forma alguma a sua família, a sua luta; por pior que tenha sido, como certas pessoas fazem hoje em dia!
Como eu, que também tenho muito orgulho do meu, uma pessoa simples, mas de bem, que lutou muito pela família, e morreu em paz pelos bons exemplos que foram seguidos.
Lindíssima homenagem Elvira!
Beijos e um final de semana cheio de alegrias!
Mariangela
Olá, estimada Elvira!
Em todos os tempos, há pessoas nobres, de "fibra" e lutadoras.
PARABÉNS PELO PAI, QUE TEVE!
A filha sai ao pai, acho eu, só que, graças a Deus e ao avanço e progresso da sociedade, as coisas HOJE, são bem diferentes.
São realidades, que desconheço, na prática, mas ditas por si, são escrituras, como se diz no meu Alentejo.
Lendo o seu texto, pergunto, por que se queixam tanto as pessoas, atualmente?
Um beijinho para todos.
Elvira,
Peço-lhe desculpa, só agora li este texto. O que li comoveu-me de tal forma que... nem sei que mais diga.
Parabéns pelo pai que teve, parabéns pela filha que foi e é.
Beijo :)
Querida Elvira
Só hoje pude aqui vir.
Li o seu texto e lembrei-me da luta deste homem na história que nos contou não há muito, em que ele aparecia, um grande lutador, enfrentando a vida com valentia.
Junto-me a si nesta sua homenagem a seu pai. Bem merecida.
Parabéns.
Bjs
Olinda
Enviar um comentário