Forte de Peniche. Foto do google
A década de 60 foi seguramente uma das mais que mais
marcaram o século passado. Pelo despertar de consciências, pela aparição de
novas ideologias, relativamente à sociedade e ao modo como ela se comportava.
1960 Foi o começo da contestação global das sociedades industriais avançadas,
iniciadas pelos beatniks movimento a que os sociólogos norte americanos deram
nome de contra-cultura. Foi o tempo de contestação ao poder militar e
industrial, das manifestações contra a Guerra do Vietname, da defesa de
minorias, da proposta de nova ordem social, mais justa e menos competitiva. Foi
o despertar da consciência ecológica, e da libertação feminista. Foi o tempo do
“Faz amor, não a guerra”da explosão da música rock, da utopia, e do consumo em
larga escala de drogas.
Pese todas estas
convulsões, quem porém visitasse a Seca do Bacalhau, onde a par do Manuel e
mulher se moviam cerca de 4 centenas de pessoas, vindas essencialmente do norte
do país, mas também de outras regiões, como Alentejo e Algarve, não notaria
qualquer diferença em relação aos anos anteriores. Ali as pessoas viviam como
que num mundo à parte, onde a única preocupação era que não chovesse, para que
tivessem todos os dias trabalho e pudessem pôr na mesa um prato de sopa.
O dia 1 de Janeiro de 1960 começa com a Independência dos Camarões.
Dois dias depois, Álvaro Cunhal está entre os militantes comunistas que se
evadem da cadeia de Peniche. No dia seguinte é assinada a Convenção de
Estocolmo que institui a EFTA. Portugal está entre os fundadores, ao lado da
Áustria, Dinamarca, Noruega, Reino Unido Suíça e Suécia.
Em 13 de Janeiro Antoine Pinay abandona o governo francês, e
na Argélia acontece uma semana de barricadas.
No velho casarão, Manuel recebe um recado para ir falar com
a professora do filho, que o informa de que o filho está bem preparado para
avançar e sendo assim vai fazer as passagens da 1ª e 2ª classe. Na verdade o
catraio revelou-se muito inteligente e tinha absorvido bem os ensinamentos
anteriores. Agora que o problema da fala estava ultrapassado e a professora o
entendia, dava-se conta que ele podia avançar, caso claro fizesse bem as provas
de passagem, coisa de que ela estava convencida. Manuel regressou a casa todo
contente.
A meados do mês seguinte a URSS compromete-se a comprar um
milhão de toneladas de açúcar cubano por ano, e a 24 do mesmo mês o governo
italiano de Segni demite-se
Em Março, Mário Pinto de Andrade, Lúcio Lara, Viriato Cruz,
Amílcar Cabral, e Hugo Meneses unem esforços e formam uma Frente Revolucionária
Africana para a Independência Nacional das Colônias Portuguesas. Nesse mesmo
mês, é privatizada a Volkswagen, e na Itália é eleito um novo governo, apenas
com democrata-cristãos, sob a presidência de Fernando Tambroni.
Khruchtchov visita a França, e pela primeira vez na história
da Igreja é nomeado um cardeal negro
Na Seca os navios já partiram, e o grosso dos trabalhadores
também. A safra chegará ao fim com a saída do último fardo de bacalhau e já não
falta muito para isso.
A 5 de Abril, De Gaulle visita o Reino unido. Frantz Fanon
brilhou na II Conferência de Solidariedade Afro-Asiática em Conakry. Surge em
França o Partido Socialista Unificado.
As minas de Aljustrel e a sede do sindicato são ocupadas por
mineiros em greve. Cerca de uma centena de detidos é o resultado.
Brasília é elevada a capital
do Brasil, e antes do término do mês, dá-se a Independência do Congo
Brazzaville, do Mali e Togo
Em Portugal, o dia do Trabalhador, é comemorado com greves
de protestos. E a nível internacional, a URSS abate o avião-espião U2
norte-americano tornando maior a tensão entre as duas potências.
A 3 entra em vigor a EFTA, e dias depois é decidida a
aceleração do mercado comum industrial; os seis concordam também em estabelecer
uma tarifa externa e a adoptar o calendário das decisões quanto à política
agrícola; criação do Fundo Social Europeu.
A cimeira de Paris entre Eisenhower, Khruchtchev, De Gaulle
e MacMillan, resulta num fracasso.
Portugal recebe as visitas de Sukarno e de Eisenhower com
poucos dias de intervalo.
Dehousse propõe no Parlamento Europeu um projeto de
convenção sobre o método de eleição direta.
E a 27 de Maio dá-se o golpe de estado militar na Turquia.
23 comentários:
Cara Elvira
Que magnífica metáfora nos deixou, hoje, aqui: a "Safra" é Portugal, a quem EFTA nenhuma tira do seu isolamento.
Beijos
Penso que uma das poucas coisas boas que havia em Portugal da década de 60 era o Sport Lisboa e Benfica. A contra-cultura foi um marco na história da humanidade, tal como foi anteriormente o Iluminismo: passos dados em direcção ao abismo.
OLÁ AMIGA!
Até para mim foi marcante a década de 60, em 62 ingressei na Marinha Portuguesa como Fuzileiro; Em 63 parti para Angola; Em 65 parti para Moçambique; Em 68 o meu casamento; Em 69 parti para França; Para mim, foi um turbilhão de acontecimentos, que marcaram a minha juventude para sempre.
O meu abraço
Tenho a mesma ideia que os anos 60 foram realmente os mais relevantes do século XX, em termos de novas mentalidades, ideias e ideais que surgiram, questionando a guerra e os valores preconceituosos de uma sociedade hipócrita. E as gerações mais novas fizeram a diferença, pois não pretendiam perder a vida a combater em guerras inglórias... :)
Mesmo assim, por cá, suponho que muitas destas reviravoltas no mundo nem chegavam ao conhecimento das populações. A televisão ainda estava longe de existir em todos os lares, de modo que a divulgação das notícias chegava via jornais. Censurada e apenas para aqueles que sabiam ler e os podiam comprar... :S
Beijocas!
E aqui está um relato interessante, como sempre e com muita história que a nossa geração vivui mas muita da qual já está um pouco esquecida. A década de 60 foi de facto marcante demais, época em que se lutou para se alcançar o que se tem hoje. Foi um verdadeiro " despertar de consciências" para se acabar com aquilo que de pior havia nas sociedades da época: a falta de liberdade em todos os aspectos e o obscurantismo em que vivia o povo tão escravizado em trabalhos pesados cujo pagamento mal dava para comprar a "malga de caldo"
Foi um época que deu os frutos esperados, embora em muitas partes deste planta ainda se lute por esse direito tão fundamental, a liberdade. Gostei muito de saber que a vida do Manuel se ia recompondo e que os filhos iam conquistando o seu espaço. Obrigada, Elvira pela partilha de factos tão importantes do nosso Portugal e do mundo. Uma bela semana, amiga. Um beijinho
Emília
Mais um belo Texto Elvira! Pesquisa maravilhosa e o encaixe dela nos seus escritos mais uma vez casaram-se perfeitamente!
Parabens amiga!
A década de sessenta do século XX foi marcante, muito marcante, em todos os sentidos.
A visita do presidente norte-americano jamais deveria ter acontecido, pois veio legitimar a ditadura.
Mas, como sempre, os EUA só olham para o seu umbigo.
De Trujillo, um dos piores ditadores da América Latina, um alto responsável estado-unidense disse algo como isto: "É um sacana terrível, mas está do nosso lado".
Portanto, que atirasse vivos aos crocodilos os seus oponentes não importava.
Uma boa semana
Muito belo seu texto, riquíssimos acontecimentos marcantes!
Abraços,
Mariangela
Era muito pequena na década de 60, por isso gostei imenso desta leitura.
Bjs
Gosto!!!! Muito!!!!! Um texto que nos prende a atenção, do princípio ao fim.Continua, minha amiga, esta narrativa que em boa hora iniciaste. Ah, gosto muito da fotografia que está a encimar o blogue. Diz muito de ti e da tua família. Esse rio é fantástico! Beijinhos
Elvirinha querida:
Hoje fez-me vir as lágrimas aos olhos.
Anos 60. Os anos do nosso despertar para a vida. A juventude, as mudanças.
Eu adoro o seu blog. Aqui me encontro com a minha mocidade, as lembranças vêm fortes e nítidas. Lembro pessoas, factos.
Volte breve.
Beijinho
Maria
Elvira, observando essa narrativa, se pode ver como o mundo mudou de lá para cá. Os anos 60 nesse sentido foram decisivos para isso, pois nessa década começou uma abertura mental e comportamental no mundo, até chegarmos aqui. Um beijo no seu coração.
A la distancia, Elvira, sigo impregnándome de la historia portuguesa, gracias a tus escritos tan condensados e interesantes.
Un abrazo austral.
Mais um excelente episódio de histórias - História mesmo, e histório de vida - do Manuel como membro de um povo sofrido.
Os anos 60 foram marcantes em todos os aspectos - ainda hoje é muito apreciada a música dos anos 60, como representativa de uma grande revolução cultural.
Continuação de boa semana. Um abraço.
Mais uma excelente viagem
pela memória viva
Olá, Elvira!
Foi de facto muito rica a década de 60, como aqui está largamente documentado. Ainda que nem tudo o que se passava lá fora até nós chegasse, por obra da pesada censura. E lembro-me de 15 dias passados em Peniche, na Marinha - em 68 - e do aspecto sinistro daquele forte quando à noite lá passeávamos por perto, e quase se não encontrava vivalma...
Belo relato!
Abraço amigo.
Vitor
Nos anos 60 aconteceram as grandes viradas. Nele me formei professora, tive meu primeiro trabalho e, com o surgimento da televisão as notícias do mundo chegavam mais depressa.Agora,foi como visse um documentário, com a sua extraordinária narrativa. Muito bom, vira aqui!
Um abraço, Elvira,
da Lúcia
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. nasci em 1970 . ainda com todas as marcas dos anos 60 . as quais aprendi a compreender . a respeitar . a enaltecer .
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. muito obrigado por este momento .
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. um beijo meu . o de sempre .
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Boa noite querida amiga!!!!
vim ler mais uma história da vida real e...
Vindo aqui aproveito para te convidar para apoiar juntamente comigo o OUTUBRO ROSA,incentivando as pessoas conhecidas a fazer o exame de mama, prevenindo do câncer que é responsável por 52.680 novos casos no Brasil neste ano!Quero que você esteja junto comigo nesta luta,apoiando esta causa. Vamos a cada dia plantar esta ideia na cabeça das pessoas...EU, do blog FOLHAS DE OUTONO,agradeço todo o apoio E comentário deixado lá em prol da minha nova postagem.Peço que ao passar leve uma mensagem de positividade.
Os anos sessenta foram de facto, anos marcantes em todo o mundo e em várias esferas. Pessoalmente, também foi uma década que recebi tudo da vida: perdas e muitas alegrias.
Aqui, a par da história do Manuel que personifica, acho eu, o português dessa época, ficamos a saber o que aconteceu pelo mundo inteiro.
O teu blogue é uma preciosidade.
Obrigada
Beijocas e bom fim de semana.
Graça
Forte de Peniche
Para calar os opositores
Esta politica que se lixe
Porque forma exploradores!
Tentam de novo a boca calar
A quem reivindica seus direitos
Querem regressar ao regime da Salazar
Estes trafulhas sem preconceitos!
Tentam o povo enganar
Querem guerra com certeza
Só com morte a boca lhe calar
Estes pulhas causadores da pobreza!
Bom fim de semana para você,
amiga Elvira,
um abraço
Eduardo.
Os anos 60 do século passado foram o colocar em causa muitas das coisas que eram tidas como verdades absolutas.
Elvira, tem um bom fim de semana.
Beijo.
Querida amiga obrigada pela visita, blog é cultura aprendemos tanto. Deus te der muita paz. Um abraço fraterno. Celina.
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