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14.10.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XLVI


 Forte de Peniche. Foto do google


A década de 60 foi seguramente uma das mais que mais marcaram o século passado. Pelo despertar de consciências, pela aparição de novas ideologias, relativamente à sociedade e ao modo como ela se comportava. 1960 Foi o começo da contestação global das sociedades industriais avançadas, iniciadas pelos beatniks movimento a que os sociólogos norte americanos deram nome de contra-cultura. Foi o tempo de contestação ao poder militar e industrial, das manifestações contra a Guerra do Vietname, da defesa de minorias, da proposta de nova ordem social, mais justa e menos competitiva. Foi o despertar da consciência ecológica, e da libertação feminista. Foi o tempo do “Faz amor, não a guerra”da explosão da música rock, da utopia, e do consumo em larga escala de drogas.
   Pese todas estas convulsões, quem porém visitasse a Seca do Bacalhau, onde a par do Manuel e mulher se moviam cerca de 4 centenas de pessoas, vindas essencialmente do norte do país, mas também de outras regiões, como Alentejo e Algarve, não notaria qualquer diferença em relação aos anos anteriores. Ali as pessoas viviam como que num mundo à parte, onde a única preocupação era que não chovesse, para que tivessem todos os dias trabalho e pudessem pôr na mesa um prato de sopa.
O dia 1 de Janeiro de 1960 começa com a Independência dos Camarões. Dois dias depois, Álvaro Cunhal está entre os militantes comunistas que se evadem da cadeia de Peniche. No dia seguinte é assinada a Convenção de Estocolmo que institui a EFTA. Portugal está entre os fundadores, ao lado da Áustria, Dinamarca, Noruega, Reino Unido Suíça e Suécia.
Em 13 de Janeiro Antoine Pinay abandona o governo francês, e na Argélia acontece uma semana de barricadas.
No velho casarão, Manuel recebe um recado para ir falar com a professora do filho, que o informa de que o filho está bem preparado para avançar e sendo assim vai fazer as passagens da 1ª e 2ª classe. Na verdade o catraio revelou-se muito inteligente e tinha absorvido bem os ensinamentos anteriores. Agora que o problema da fala estava ultrapassado e a professora o entendia, dava-se conta que ele podia avançar, caso claro fizesse bem as provas de passagem, coisa de que ela estava convencida. Manuel regressou a casa todo contente.
A meados do mês seguinte a URSS compromete-se a comprar um milhão de toneladas de açúcar cubano por ano, e a 24 do mesmo mês o governo italiano de Segni demite-se
Em Março, Mário Pinto de Andrade, Lúcio Lara, Viriato Cruz, Amílcar Cabral, e Hugo Meneses unem esforços e formam uma Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colônias Portuguesas. Nesse mesmo mês, é privatizada a Volkswagen, e na Itália é eleito um novo governo, apenas com democrata-cristãos, sob a presidência de Fernando Tambroni.
Khruchtchov visita a França, e pela primeira vez na história da Igreja é nomeado um cardeal negro
Na Seca os navios já partiram, e o grosso dos trabalhadores também. A safra chegará ao fim com a saída do último fardo de bacalhau e já não falta muito para isso.
A 5 de Abril, De Gaulle visita o Reino unido. Frantz Fanon brilhou na II Conferência de Solidariedade Afro-Asiática em Conakry. Surge em França o Partido Socialista Unificado.
As minas de Aljustrel e a sede do sindicato são ocupadas por mineiros em greve. Cerca de uma centena de detidos é o resultado.
 Brasília é elevada a capital do Brasil, e antes do término do mês, dá-se a Independência do Congo Brazzaville, do Mali e Togo
Em Portugal, o dia do Trabalhador, é comemorado com greves de protestos. E a nível internacional, a URSS abate o avião-espião U2 norte-americano tornando maior a tensão entre as duas potências.
A 3 entra em vigor a EFTA, e dias depois é decidida a aceleração do mercado comum industrial; os seis concordam também em estabelecer uma tarifa externa e a adoptar o calendário das decisões quanto à política agrícola; criação do Fundo Social Europeu.
A cimeira de Paris entre Eisenhower, Khruchtchev, De Gaulle e MacMillan, resulta num fracasso.
Portugal recebe as visitas de Sukarno e de Eisenhower com poucos dias de intervalo.
Dehousse propõe no Parlamento Europeu um projeto de convenção sobre o método de eleição direta.
E a 27 de Maio dá-se o golpe de estado militar na Turquia.

23 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Cara Elvira

Que magnífica metáfora nos deixou, hoje, aqui: a "Safra" é Portugal, a quem EFTA nenhuma tira do seu isolamento.

Beijos

Anónimo disse...

Penso que uma das poucas coisas boas que havia em Portugal da década de 60 era o Sport Lisboa e Benfica. A contra-cultura foi um marco na história da humanidade, tal como foi anteriormente o Iluminismo: passos dados em direcção ao abismo.

António Querido disse...

OLÁ AMIGA!
Até para mim foi marcante a década de 60, em 62 ingressei na Marinha Portuguesa como Fuzileiro; Em 63 parti para Angola; Em 65 parti para Moçambique; Em 68 o meu casamento; Em 69 parti para França; Para mim, foi um turbilhão de acontecimentos, que marcaram a minha juventude para sempre.
O meu abraço

Teté disse...

Tenho a mesma ideia que os anos 60 foram realmente os mais relevantes do século XX, em termos de novas mentalidades, ideias e ideais que surgiram, questionando a guerra e os valores preconceituosos de uma sociedade hipócrita. E as gerações mais novas fizeram a diferença, pois não pretendiam perder a vida a combater em guerras inglórias... :)

Mesmo assim, por cá, suponho que muitas destas reviravoltas no mundo nem chegavam ao conhecimento das populações. A televisão ainda estava longe de existir em todos os lares, de modo que a divulgação das notícias chegava via jornais. Censurada e apenas para aqueles que sabiam ler e os podiam comprar... :S

Beijocas!

Emília Pinto disse...

E aqui está um relato interessante, como sempre e com muita história que a nossa geração vivui mas muita da qual já está um pouco esquecida. A década de 60 foi de facto marcante demais, época em que se lutou para se alcançar o que se tem hoje. Foi um verdadeiro " despertar de consciências" para se acabar com aquilo que de pior havia nas sociedades da época: a falta de liberdade em todos os aspectos e o obscurantismo em que vivia o povo tão escravizado em trabalhos pesados cujo pagamento mal dava para comprar a "malga de caldo"
Foi um época que deu os frutos esperados, embora em muitas partes deste planta ainda se lute por esse direito tão fundamental, a liberdade. Gostei muito de saber que a vida do Manuel se ia recompondo e que os filhos iam conquistando o seu espaço. Obrigada, Elvira pela partilha de factos tão importantes do nosso Portugal e do mundo. Uma bela semana, amiga. Um beijinho
Emília

Andre Mansim disse...

Mais um belo Texto Elvira! Pesquisa maravilhosa e o encaixe dela nos seus escritos mais uma vez casaram-se perfeitamente!

Parabens amiga!

São disse...

A década de sessenta do século XX foi marcante, muito marcante, em todos os sentidos.

A visita do presidente norte-americano jamais deveria ter acontecido, pois veio legitimar a ditadura.

Mas, como sempre, os EUA só olham para o seu umbigo.

De Trujillo, um dos piores ditadores da América Latina, um alto responsável estado-unidense disse algo como isto: "É um sacana terrível, mas está do nosso lado".
Portanto, que atirasse vivos aos crocodilos os seus oponentes não importava.

Uma boa semana

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Muito belo seu texto, riquíssimos acontecimentos marcantes!
Abraços,
Mariangela

Lilá(s) disse...

Era muito pequena na década de 60, por isso gostei imenso desta leitura.
Bjs

Isamar disse...

Gosto!!!! Muito!!!!! Um texto que nos prende a atenção, do princípio ao fim.Continua, minha amiga, esta narrativa que em boa hora iniciaste. Ah, gosto muito da fotografia que está a encimar o blogue. Diz muito de ti e da tua família. Esse rio é fantástico! Beijinhos

Maria disse...

Elvirinha querida:
Hoje fez-me vir as lágrimas aos olhos.
Anos 60. Os anos do nosso despertar para a vida. A juventude, as mudanças.
Eu adoro o seu blog. Aqui me encontro com a minha mocidade, as lembranças vêm fortes e nítidas. Lembro pessoas, factos.
Volte breve.
Beijinho
Maria

Paulo Cesar PC disse...

Elvira, observando essa narrativa, se pode ver como o mundo mudou de lá para cá. Os anos 60 nesse sentido foram decisivos para isso, pois nessa década começou uma abertura mental e comportamental no mundo, até chegarmos aqui. Um beijo no seu coração.

esteban lob disse...

A la distancia, Elvira, sigo impregnándome de la historia portuguesa, gracias a tus escritos tan condensados e interesantes.

Un abrazo austral.

Mariazita disse...

Mais um excelente episódio de histórias - História mesmo, e histório de vida - do Manuel como membro de um povo sofrido.

Os anos 60 foram marcantes em todos os aspectos - ainda hoje é muito apreciada a música dos anos 60, como representativa de uma grande revolução cultural.

Continuação de boa semana. Um abraço.

Mar Arável disse...

Mais uma excelente viagem

pela memória viva

Vitor Chuva disse...

Olá, Elvira!

Foi de facto muito rica a década de 60, como aqui está largamente documentado. Ainda que nem tudo o que se passava lá fora até nós chegasse, por obra da pesada censura. E lembro-me de 15 dias passados em Peniche, na Marinha - em 68 - e do aspecto sinistro daquele forte quando à noite lá passeávamos por perto, e quase se não encontrava vivalma...

Belo relato!

Abraço amigo.
Vitor

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Nos anos 60 aconteceram as grandes viradas. Nele me formei professora, tive meu primeiro trabalho e, com o surgimento da televisão as notícias do mundo chegavam mais depressa.Agora,foi como visse um documentário, com a sua extraordinária narrativa. Muito bom, vira aqui!
Um abraço, Elvira,
da Lúcia

. intemporal . disse...

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. nasci em 1970 . ainda com todas as marcas dos anos 60 . as quais aprendi a compreender . a respeitar . a enaltecer .

.

. muito obrigado por este momento .

.

. um beijo meu . o de sempre .

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Severa Cabral(escritora) disse...

Boa noite querida amiga!!!!
vim ler mais uma história da vida real e...
Vindo aqui aproveito para te convidar para apoiar juntamente comigo o OUTUBRO ROSA,incentivando as pessoas conhecidas a fazer o exame de mama, prevenindo do câncer que é responsável por 52.680 novos casos no Brasil neste ano!Quero que você esteja junto comigo nesta luta,apoiando esta causa. Vamos a cada dia plantar esta ideia na cabeça das pessoas...EU, do blog FOLHAS DE OUTONO,agradeço todo o apoio E comentário deixado lá em prol da minha nova postagem.Peço que ao passar leve uma mensagem de positividade.

Graça Pereira disse...

Os anos sessenta foram de facto, anos marcantes em todo o mundo e em várias esferas. Pessoalmente, também foi uma década que recebi tudo da vida: perdas e muitas alegrias.
Aqui, a par da história do Manuel que personifica, acho eu, o português dessa época, ficamos a saber o que aconteceu pelo mundo inteiro.
O teu blogue é uma preciosidade.
Obrigada
Beijocas e bom fim de semana.
Graça

Edum@nes disse...

Forte de Peniche
Para calar os opositores
Esta politica que se lixe
Porque forma exploradores!

Tentam de novo a boca calar
A quem reivindica seus direitos
Querem regressar ao regime da Salazar
Estes trafulhas sem preconceitos!

Tentam o povo enganar
Querem guerra com certeza
Só com morte a boca lhe calar
Estes pulhas causadores da pobreza!

Bom fim de semana para você,
amiga Elvira,
um abraço
Eduardo.


Nilson Barcelli disse...

Os anos 60 do século passado foram o colocar em causa muitas das coisas que eram tidas como verdades absolutas.
Elvira, tem um bom fim de semana.
Beijo.

Celina disse...

Querida amiga obrigada pela visita, blog é cultura aprendemos tanto. Deus te der muita paz. Um abraço fraterno. Celina.