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22.7.09
O TERCEIRO FILHO - SEGUNDA FASE - PARTE III
E chegámos à segunda metade do século XX.
Que começa com a morte de Militão Ribeiro na Penitenciária de Lisboa, depois de ter feito uma greve de fome. Ainda em Janeiro o partido comunista perde mais dois militantes. José Martins e José Moreira.
Nesse mesmo mês a Inglaterra reconhece a República popular da China.
E Fevereiro chega com a recusa do governo português à proposta da União Indiana para as negociações de integração do estado português da Índia, como parte integrante do seu território.
Em França os ministros socialistas abandonam o governo e nas eleições da Grã-Bretanha, os trabalhistas são os vencedores.
Em Março, o Congresso Mundial dos Partidários da Paz, defende em Estocolmo a interdição do uso da bomba atómica.
Em Maio inicia-se o julgamento de Álvaro Cunhal, que acaba sendo condenado à prisão perpétua.
Na Seca, a mulher do Manuel está como no ano anterior prestes a dar à luz. Ele anda sorumbático. Teme a vinda de outra rapariga. Interroga-se sobre o que fará se isso acontecer. E chegou o mês de Junho. No dia 4 desse mês é morto em Alcobaça, Alfredo Dias Lima, um destacado membro do partido comunista que organizara uma greve. De 10 a 29 decorrem em Lisboa, as Festas Populares, que retomam o desfile das marchas.
No dia 20 de Junho, dia em que a segunda filha faz 1 ano, precisamente três horas antes, nasce o tão almejado filho. O rapaz esperado desde o primeiro momento enchendo de alegria e orgulho o coração do nosso Manuel.
Nesse dia quase não dormiu. Dividido entre a contemplação do filho, a mulher, que parecia mais cansada que das outras vezes e as duas raparigas, uma extremamente franzina, – não pôde ser amamentada como devia, por causa da nova gravidez – e a mais velha que nem 3 anos tinha, e só queria ver e brincar com o bebé, como se ele fora um boneco. Manuel estava alerta com ela. Lembrava-se do susto que apanhara uns meses atrás, quando fora dar com ela a meter pão na boca da menina, e esta quase sufocada, já a ficar negra. Tivera que lhe pegar pelos pés, virá-la de cabeça para baixo, e dar-lhe umas palmadas, até que por fim saltaram os pedaços de pão. E o pior foi a cara de anjinho da garota, quando disse na sua linguagem ainda a taramelada que “a mana estava a chorar, devia ter fome”. Ficou desarmado sem coragem de a castigar. Mas a partir daí o berço da menina ficou protegido por uma cancela na porta do quarto.
No mês seguinte foi a vez do Varandas ver nascer o seu primeiro rapaz. O Manuel ganhara a aposta por 15 dias.
Em Agosto dá-se uma remodelação do governo, com recuo da ala Marcelista e avanço do grupo Santos Costa.
Na Bélgica, Balduíno presta juramento como regente, e o Conselho da Europa aprova um projecto do Churchill, sobre a criação de um exército europeu.
Em Novembro, estreia em Lisboa, “O Grande Elias” e antes do fim do ano, novos protestos contra o governo, no Congresso dos Homens Católicos, e nos protestos estudantis.
O Natal desse ano não foi um Natal feliz para o nosso Manuel, apesar do rapazinho que tanto desejara. É que a mulher nunca mais fora a mesma desde o parto. Emagrecera imenso, tinha grandes olheiras, parecia estar sempre com dores. Manuel estava muito preocupado.
continua
A QUEM ME DEU NO MÊS PASSADO OS PARABÉNS PELOS MANOS GÉMEOS. REPARARAM? NÃO SÃO GÉMEOS. TÊM UM ANO DE DIFERENÇA...
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29 comentários:
Olá,voltei!
Tenho muito que ler e ver, por agora só venho ver se foram felizes e estou a ver que nesta casa está tudo bem.
Abraços
Elvira,
Claro que deu para perceber que os teus manos são gémeos mas de signo.
E também foi giro constatar uma parte que temos em comum. Eu ia cegando a minha irmã bébé com a cal de pintar as casas. Só porque queria brincar com ela.
Tu ias matando a tua só porque lhe querias matar a fome (kkkkkk!!!).
O que faz a inocência das crianças.
Ora cá está o tão desejado "pilinhas"!
Uf!
Vamos continuar a acompanhar a história com muito interesse.
Bjs
...continuação de boas escritas...
um abraço Elvira
É minha querida Amiga, e há tantos marasmos por aí...tanta solidão, mesmo em companhia, que a gente já nem distingue o verdadeiro do virtual.
Até Serrat sabia bem disso!
Beijos
Maria Mamede
Perdoa Elvira; há pouco queria dizer Patxi e disse Serrat, desculpa.
Vim somente para emendar o erro.
Voltarei para te ler, com a atenção que mereces.
Bj
Maria Mamede
Elvira.Voltei depois da avaria no pc,e continuo a ver traços da nossa triste história do antigamente,mas ainda existe gente de fraca memória amiga,e custa ver e ouvir alguns.
Abraço e bfs.
Pronto, não são gémeos, mas o Manuel apesar de ter ganho a aposta por 15 dias, não parece que tenha grandes razões para estar contente.
Abraço do Zé
Fiz exame da quarta-classe e mais o de admissão ao liceu. O Craveiro Lopes foi a Viana no comboio Foguete assistir à partida dos lugres para a Terra Nova. Não tarda que a minha (terra nova) seja o Porto...
E cá continua preso a história da História! Belisssima!
abraços!
www.tintapermanente.com
A tua narrativa, e respectivo enredo, continuam deliciosos.
Fico à espera de mais.
Querida amiga, bom fim de semana.
Beijo.
Estimadíssima e Simpática Amiga:
É com uma dificuldade enorme que lhe faço este comentário. Estou com problemas na NET. Penso que são virus existentes no computador, mas olhe, li o texto do princípio ao fim e considero-o uma abordagem socio-cultural e política fabulosas. Geniais, mesmo.
Agradeço a sua amizade que é recíproca.
Tem uma admirável vocação para escrever. Encanta.
Adorei!
Beijinhos para si e para toda a sua família.
Com respeito e fascínio pelo que "constrói" admiravelmente...
pena
Bem-Haja, extraordinária amiga fantástica e enorme.
É uma preciosidade humana imensa.
QUERIDA ELVIRA, GOSTEI MUITO DE LER... BOM FIM DE SEMANA... BEIJINHOS DE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA
O blog está lindo, parabéns ^^
Continua fantástica a sua narrativa. Parabéns!
Neste momento ainda me encontro em convalescença da pneumonia, por isso quase nem posso brincar c/os netos, nem passear, nem fazer arrumações e limpezas de Verão, enfim...há que ter paciência.
O meu ultimo post tem a ver com o "MAU" que existe na Blogosfera, fico triste. Mas a vida é assim!
Deixo-te um beijo e votos de óptimas semanas de Verão.
Me gusta muchísimo cómo escribes, me encanta esta historia
Besotessssssss
Há-de sair a parte IV e eu no meu terceiro round de férias... Mas leio depois.
Até lá... Volto ao meu interminável Ensaio sobre a Cegueira, de J. Saramago.
Hoje libertei-me dele para vir fazer dos posts em atraso a minha leitura de mesinha de cabeceira virtual.
Beijo enorme, querida.*
Olá, amiga!
Para além do mais,
vou recordando um pouco da História.
E ouvindo boa música!
Beijoca
Um bom resto de fim-de-semana. Com boas histórias.
Acabei de tomar conhecimento que os manos não eram gémeos. Sempre pensei que fossem no entanto tenho na família um caso semelhante.
Continua muito interessante a tua história.
Beijinhos
Bem-hajas!
Olá Elvira.
Finalmente o rapaz!
Os pais gostam sempre de ter um menino para continuar a família dizem eles,no meu caso vieram ddois rapazes gémeos, dep+ois de ja ter duas meninas.:)
Passei também para desejar um feliz dia dos avós, somos umas avós babadas.
O meu Renatinho não está bem de saúde infelizmente, agora tem ido quase todas as semanas para o hospital, mas espero que em breve tudo se resolva.
Tudo de bom.
Beijocas.
Oi Elvira, estou chegando de férias e passei pra lhe deixar um abraco. Boa semana.
UM BEIJO PARA TI NO DIA DA AVÓ!
Elvira
Como tu escreves!... E que bem relacionas os diferentes acontecimentos que influenciam as lutas das classes trabalhadoras e suas organizações.
Hoje os tempos são difíceis mas naquele tempo as dificuldades eram imensas e as mulheres eram artigos de segunda raramente desejadas pelos chefes de família das classes populares.
Filhas eram para sofrer ainda mais, para serem carne para canhão, para, para...
Mesmo homens de tanto coração como Manuel sentiam isso. Depois claro amavam-nas e davam-lhes tudo o que podiam.
Abraço
Mas há pares de gémeos, segundo sei...
Continuo a acompanhar, claro.
Um beijo.
Muito boa a ligação entre a estória pessoal e a História( que, afinal, não deixa de ser tecida por centenas e centenas de estórias individuais).
Um abraço.
Querida Elvira,
Desculpa não comentar teu post amiga, porque estou na correria. Vou sair para resolver compromissos esternos, aproveitando que a enfermeira de Flavia está aqui hoje. Mas antes de sair, quero que saibas que te agradeço muito pelo excelente - e valioso - comentário deixado há pouco no blog de Flavia. E mesmo com esta pressa danada, já coloquei teu comentário "no ar".
Beijos e até depois. Voltarei aqui mais à noitinha. ( à noitnha no Brasil e madrugada em Portugal - rsrsr)
Morrer de greve de fome não me parece boa política. É que na realidade fazemos dois favores aos opressores: libertamo-los da nossa presença e ainda lhe poupamos a conta da alimentação. ;)
Beijoca!
Elvira:
Aqueles tempos não devem ter sido fáceis...especialmente com tanta criancinha a nascer...agora esse Manuel parece um homem fora de série, face ao contexto em que se vivia, em que se pensava que a mulher é que tinha a responsabilidade de tratar das crianças...
Estou curiosa com o desenrolar desta hitória, no meio de tempestades politicas...
Elvira, minha amiga, embora com pouco tempo disponível - ando a fazer tratamentos que me ocupam muito tempo, para além de me provocarem uma sonolência enorme - aproveitei pata ler mais este episódio, porque provavelmente só estarei de volta lá para fins de Outubro, e ficava com muita leitura atrasada.
Ainda vou estar por cá mais alguns dias (atá acabar esta série de tratamentos), e vou fazendo as visitas que puder...
Espero que não me esqueça durante a minha ausência...tal como eu a recordarei sempre.
Um abraço e até sempre.
Mariazita
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