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14.7.09

O TERCEIRO FILHO - SEGUNDA FASE - PARTE II


Estamos a terminar a 1ª metade do Séc. XX. Portugal está em campanha eleitoral e o governo tenta ligar Norton de Matos à oposição, numa tentativa de o desacreditar, que não resulta, já que Carmona também o havia sido. Em Janeiro de 49 Norton de Matos, faz um grande comício no Teatro Avenida em Coimbra, Salgado Zenha, Palma Carlos são dois dos muitos apoiantes ao novo candidato. Mais tarde novo comício no Porto, apoiado por uma multidão de mais de 100.000.
Mais tarde em Lisboa o apoio mantém-se apesar da campanha feita contra ele, através do Rádio Clube Português e do DN.
Na China os comunista conquistam Pequim.
Na Seca, o António muda-se com a mulher e os filhos para uma casa na Telha. Mais longe do Trabalho, mas mais perto da mercearia, da escola, da padaria… E melhor que isso, com electricidade e o chafariz à porta. No Barracão ficou um quarto vago que foi ocupado pelos dois filhos do Aires.
A 12 de Fevereiro, Norton de Matos anuncia a sua desistência, depois de ter mandado queimar os arquivos da candidatura para que não caíssem nas mãos da PIDE.
No dia seguinte, surge no Porto, o Movimento Nacional Democrático, saído dos apoiantes de Norton de Matos, que não concordam com a sua desistência. Nesse mesmo dia, são as eleições, e são presos muitos oposicionistas entre os quais, Mário Soares, Salgado Zenha, e Palma Carlos.
No mês seguinte, de posse de vários documentos descobertos numa casa clandestina, a PIDE carrega em força sobre os dirigentes do PCP.
Álvaro Cunhal e Militão Ribeiro são presos no Luso. Em Lisboa outros dirigentes têm a mesma sorte.
Em Março estreia em Lisboa “A Morgadinha dos Canaviais”
Em Abril, nasce a 2ª filha do Varandas. A mulher do Manuel, vai a caminho do oitavo mês e ele continua aguardando o filho tão desejado.
É proclamada a República da Irlanda, e Portugal está entre os membros fundadores da NATO.
Em Maio, os Soviéticos levantam o Bloqueio a Berlim, e dias depois é instituída a República Federal da Alemanha
E finalmente chegou o mês de Junho, tão ansiado pelo Manuel. E a 20 desse mês veio a segunda decepção. A mulher dava à luz outra menina. A decepção do Manuel foi tão grande que durante dois dias nem ligou à menina.
Em Agosto, há eleições na RFA, e em Setembro é anunciada a primeira explosão atómica na URSS.
No final de Setembro, o Carlos resolve ir trabalhar para a Seca de Alcochete. No barracão ficou mais um quarto vazio para onde foram as filhas do Manuel.
Outubro chega com a República Popular da China em Pequim. A 12 do mesmo mês é criada a República Democrática da Alemanha, e precisamente nesse dia, o Manuel descobre que a mulher está de novo grávida. E renascem-lhe as esperanças do filho homem, pelo qual suspira. Mas a vida está cada dia mais difícil, quatro bocas para alimentar são demais para o que ganha, e ele leva noites a pensar na maneira como conseguir mais dinheiro. Decidido vai falar com o patrão e pede-lhe autorização para cultivar o terreno à volta da casa.
O patrão ri-se. “Se conseguires alguma coisa, que não sejam chorões e silvas, podes ficar com isso. Mas diz-me uma coisa: - Vais regar o terreno com a água salgada do rio, ou com as bilhas de água que a tua mulher vai buscar à Telha?”
Manuel não se importou. Começou por roçar os silvados e os chorões. Depois à volta da casa construiu uma capoeira onde colocou uns quantos pintos, comprados no mercado de Azeitão.
Antes de o ano acabar o Aires muda-se também para uma pequena casa na Telha e o Manuel da Lenha fica sozinho no imenso barracão com a mulher e as filhas.
Em Novembro o Varandas anunciou que a mulher estava outra vez grávida.
E o ano chega ao fim, com Portugal a subscrever a Declaração Universal dos direitos Humanos, ao mesmo tempo que desmantela e prende em Coimbra, o núcleo intelectual do partido comunista.

27 comentários:

Mariazita disse...

Sabe que eu já tina pensado por onde andaria "o terceiro filho"? E afinal eis que ele aparece!
A narrativa da parte histórica está excelente, e, a entremeá-la, a história do Manuel, que
continua à espera do filho homem...
Portugal, para "festejar" o facto de subscrever a Declaração Universal dos direitos Humanos prende o núcleo intelectual do partido comunista!!! Assim se festejava naquele tempo...

Continuarei a acomanhar, é claro, com todo o interesse.

Um abraço
Mariazita

Zé Povinho disse...

O filho varão que muita importância tinha ainda há poucos anos em Portugal...
Curiosa a lembrança da data da assinatura da declaração universal dos direitos do homem, e da realidade à época no país.
Abraço do Zé

Anónimo disse...

Continuo a lê-la encantada.
Beijo.
isa.

Maria disse...

Que bom teres retomado este conto...
Fico a aguardar se é agora que nasce o rapaz...

Um abraço, Elvira

Susana Falhas disse...

Um novo conto, com um fundo histórico muito interessante! Já com pouca paciência para saber o fim...

Bjs Susana

PS: Obrigada pela participação lá na aldei: Amanhã digo-te se acertaste ou não...
Bjs Susana

jorge esteves disse...

...e a história continua fascinante, com tempos, ritmos, passos excelentemente marcados. Um mimo!
(lembro, em Ponte de Lima, os últimos dias de Norton de Matos; muito menino, mas já suficientemente capaz de perceber que aquele Homem não era do mesmo tamanho dos outros...)

abraços
www.tintapermanente.com

Luma Rosa disse...

Ainda encasquetada com o lance dos 12 anos de casamento do Chico. Então eram 30? Danou-se, minhas lembranças estão traiçoeiras.
Quantas tentativas, quantas filhas mulheres!! Vê que nada mudou de antigamente para cá; Não é via de regra, mas repare que, quanto mais pobre o homem, mais filhos ele tem! Beijus

Entre "linhas" disse...

Excelente narrativa, os "capitulos" encaixam-se perfeitamente,entercalando com o verdadeiro suspense...
Bjs Zita

Pena disse...

Oh, Simpática Amiga:
Um belo momento de prosa fabulosa.
Acontecimentos nacionais e internacionais de um significado imenso, intercalados pelo quotidiano sensível de pessoas, efemérides visualizadas pela importância pessoal e social.
Perfeito.
Tem uma sensibilidade especial de narrar o que sente, o que vai em si e o que visualiza de pertinência e interesse dignos de assinalar por razões humanas óbvias e de significação profunda.
Fantástico. Adorei.
Beijinhos...
Com respeito imenso pela gigante pessoa que é.

pena

Sempre a admirá-la e a estimá-la

pena

OBRIGADO pela sua amizade.
Bem-Haja, talentosa e brilhante amiga.

Susana Falhas disse...

Olá amiga Elvira!
Quero agradecer-lhe a sua participação na aldeia, que me surpreendeu e muito, pela positiva, é claro!
O resultado já saiu das adivinhas. Tenho lá uma lembrança especial para si .
Votos de bom fim de semana!
Bjs Susana

gaivota disse...

que bom vir reler coisas dos ontens... ou nem tanto!
bem sabes que ando longe dos pc's e com alguns afazeres,obras e arrumações e prepaar o verão e a chegada das minhas princesas...
mas não te esqueço, nunca!
beijinhos

Belisa disse...

OLá

Adoro ler o que escreve, me fascina!
Voltarei sempre que puder.
Desejo felicidades, saúde
Bom fim de semana
e
Beijinhos estrelados

O Profeta disse...

Ao meu querer!
Dias noites, estações esquecidas
Inventei sonhos para sonhar
Lavei mágoas, dores perdidas

Uma árvore toca as águas da lagoa
O nevoeiro faz desenhos nas cumeeiras
Um Melro negro solta um pio ao acaso
A palavra quero-te diz-se de mil maneiras


Convido-te a ver a Cor da Claridade


Doce beijo

Anónimo disse...

Passei para pôr a leitura em dia e desejar um bom fim-de-semana.

Tite disse...

Agora deixo uma pergunta Elvira,
já tens netos?

Esta é a mais bela história que tu lhes podes contar/deixar.

Tem sido um prazer lê-la.

Carminda Pinho disse...

Elvira, lamento não ter lido ainda a sua estória, mas ando sempre a correr e os posts muito extensos vão ficando para trás.
Sorry!
Bom fim de semana.
Abraços

Mariazita disse...

Bom dia, amiga
Ontem estive toda a tarde fora (entre outras coisas a fazer 1 ecografia), e só qundo voltei ao PC, já tarde, é que vi o seu comentário/aviso sobre a "limpeza de Portugal".
Esta 2ª.ideia partiu do Sempre Jovens, e eu, como "ocasional" colaboradora, lembrei-me de fazer o "selinho", como forma de chamar a atenção para uma acção que considero muito importante.
Nada se perdeu. no entanto, pelo contrário, pois foi a forma de informar muita gente que ignorava o que está previsto para 31 de Outubro.
Muito obrigada pelos seus esclarecimentos e um bom fim de semana.
Um abraço
Mariazita

esteban lob disse...

Hola Elvira:

Paso a leerte y a desearte feliz fin de semana.

Cariños.

João Norte disse...

Um olá muito grande.

Uma crise nas minhas conjuntivites crónicas tem-me impedido de ler, só agora vejo esta história interessante.

Penso que continuamos à espera do filho "varão". Será?

|Renata_Emy| disse...

Oi Elvira!

Td bem?

Qdo abro meu blog no serviço tb dá aquela msg de erro. Aqui em casa tá td normal. Não sei o q acontece...

Vc usa Internet Explorer ou Firefox?

=*

Papoila disse...

Querida Elvira:
Ando muito atarefada com o plano de contingencia da gripe A. Que bom ter retomado esta bela história que tão bem se cruza na História.
Beijos

oasis dossonhos disse...

Habituei-me de há muito a ler uma Elvira cintilante, fraterna, sem tempo, eterna, como esta história tão bem contada.
Beijinhos e obrigado por tudo
Luís

Claudia Madureira disse...

Olá,

Dá para ver a politica do momento em Portugal. Gostei!


Bjs

Patri disse...

Está siendo una historia preciosa, muy bonita

Besotesssssssss

lula disse...

E lá anda o Manuel atrás do filho macho!
Pouca sorte, ter nascido mais uma "gaja".
O mundo é das mulheres, tá visto!
bjs

Filoxera disse...

Muito bem. Continuarei a lê-la depois, agora é hora de procurar o dia de amanhã, as pálpebras pesam...
Beijinhos.

Mare Liberum disse...

A história continua muito interessante. Para além do que se passa no mundo, tomamos conhecimento do quotidiano difícil de muitas famílias portuguesas.

Bem-hajas, Elvira!

Mil beijinhos