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16.6.20

ISABEL - PARTE XXV






 Viu gentes e culturas que em nada se pareciam com as suas, mas que despertaram nele o seu espírito aventureiro e a certeza de um regresso.  Todavia se os seus conhecimentos da vida mudaram, o seu corpo não lhe ficou atrás. No final da viagem, o rapazote alto e magro tinha ficado perdido entre a vida dura de bordo; os seus ombros ficaram mais largos, o corpo tornara-se forte e musculado, como se tivesse frequentado o melhor dos ginásios. 
E foi assim que após o serviço militar cumprido, partiu à descoberta do mundo. Para se sustentar fez de tudo um pouco. Foi servente de pedreiro, empregado de mesa em cafés e restaurantes, entregador de flores, e até empregado de uma funerária. Enquanto isso, escrevia crónicas sobre o que tinha visto e vivido enquanto militar.
 Em Paris, teve a sorte de ver uma das suas crónicas publicadas, no Le Monde. Umas quantas crónicas depois, conseguiu um lugar de estagiário na redação desse mesmo jornal. Aproveitou o estágio para se inscrever num curso intensivo de jornalismo, aprimorando e pondo em prática conhecimentos adquiridos na universidade. Conheceu Sara Braizinha, uma conterrânea a estudar arte contemporânea, com quem viveu uma conturbada história de amor, que durou pouco mais de um ano. Conturbada, porque Sara pretendia muito mais do que aquilo que ele queria, ou podia dar-lhe. O povo diz que gato escaldado, de água fria tem medo. E ele sentia-se muito escaldado. 
A traição de Odete, rasgara-o interiormente. Acreditava que nunca mais iria confiar noutra mulher. E Sara queria uma relação estável e douradora. Por isso um dia despediu-se, comprou um auto caravana e rumou para África. A partir daí passou a trabalhar sempre como jornalista  independente. Porém como escrevia muito bem, as suas crónicas e reportagens publicavam-se em vários jornais, um pouco por todo o mundo. Especialmente as que fizera no Iraque, Timor e Myanmar. Vira e vivera situações, que até o diabo temia.
O seu espírito aventureiro, o seu físico, os belos olhos cinzentos, aliados ao constante ar trocista, acicatavam a imaginação feminina. Daí que aventuras amorosas, não lhe faltassem.
Aventuras  que duravam horas ou dias e que não faziam qualquer mossa nos seus sentimentos nem convicções. Sara fora uma excepção, pelo tempo que durou.
Acabara de fazer quarenta e  cinco anos de uma vida intensamente vivida, minuto a minuto
No ano anterior, publicara o seu primeiro livro, "Renascer". Talvez por não ter muita confiança no sucesso do livro, ou porque não lhe interessava de momento, disse ao editor que não queria dar-se a conhecer, e por isso não houve fotografias nem no livro, nem nas notas da imprensa. Além disso fizera-se representar, por um advogado, já que na altura se encontrava na Índia.