Às onze em ponto, Mário chegou à sala de reuniões. Saudou
os empregados com um rápido bom dia, mandou que se sentassem e começou a expôr
a situação da empresa. Durante quase meia hora, mostrou mapas de produção dos últimos meses, registos das dívidas da empresa, notas das poucas encomendas em carteira, e fez perguntas
sobre cada um das secções. Por fim fechou o portátil e disse.
- Agora, já sabem a situação real da “Tudilar”. Neste
momento devem estar a pensar.”Se a situação é tão crítica, porque é que ele
comprou a empresa” A verdade é que reerguer esta empresa é um desafio, e eu sempre gostei de desafios. Depois porque acredito que daqui a algum tempo, ela vai ser uma empresa
muito maior do que é hoje, talvez até a maior do país. Eu vou fazê-la crescer.
A minha dúvida é se os senhores são capazes de me acompanhar.
Percorreu com o olhar um a um dos seus subalternos. Não
era um olhar amistoso. Era um olhar duro, impiedoso, como o da ave de rapina,
que estuda a sua vítima antes de se lançar sobre ela. Continuou.
- Quero que cada um de vós, estude com rigor a sua secção
e me faça um relatório detalhado, sobre o que se pode melhorar, de modo a aumentar a
produção, sem aumentar o preço final da produto, nem diminuir, a sua qualidade.
Estes dois itens finais são muito importantes, pois são eles que nos vão levar para
cima. Também quero que me especifiquem, cada componente da matéria-prima usada
em cada produto. Se alguma das máquinas está obsoleta, enfim tudo o que
entendam necessário, para que eu possa tomar medidas. Preciso desse relatório, rápido. Creio que
uma semana é suficiente para isso. É esse o vosso prazo. E devo avisá-los que
não terei contemplações com falhanços. Só com gente competente à minha volta,
posso fazer com que esta empresa cresça mais do que no passado e dar-vos o
descanso de não pensarem no desemprego. Com as encomendas, me preocupo eu e
asseguro-vos que não vão faltar.
Olhou o relógio.
- Não tenho mais nada a acrescentar, está na hora do
almoço, podem sair. Não esqueçam na próxima quinta-feira, quero os vossos
relatórios na minha secretária. Bom trabalho.
Esclarecimento
Antes que os meus prezados leitores desencadeiem uma guerra de palavras, me puxem as orelhas, ou me chamem ignorante, devo esclarecer uns pontos.
1º O que leem aqui é pura ficção. Mas mesmo na ficção as histórias para obedecerem ao rigor, devem ser datadas, e esta não o é. Quer isto dizer que o organograma empresarial hoje é muito diferente do que era há trinta, quarenta anos. No século passado, e não é preciso recuar muito, as empresas de construção de alguma coisa, eram divididas em sectores ou secções, e em cada uma dessas secções havia um chefe, em algumas fábricas também designado por capataz, que recebia e dava contas da sua secção ao gerente.
Foi baseado num esquema desses que eu elaborei a história, e o Mário, que aqui sendo patrão, atua também como gerente da empresa, reuniu não com os trabalhadores, mas com os chefes de Secção.
2º Se eu situasse esta história em 2017, provavelmente também não utilizaria o organograma empresarial delineado nos vossos comentários e optaria pela holocracia, por ser revolucionário, e muito mais produtivo, e como devem saber neste sistema, não existem gerentes, todos trabalham em torno do mesmo objectivo.
Esclarecidos?