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21.9.16

VIDAS CRUZADAS - PARTE II




Perdera o apetite, e em consequência, alguns quilos. Sentia-se cansado, nervoso, e uma estranha opressão instalara-se-lhe no peito. A princípio nem ligara, porém os sintomas foram-se tornando mais insistentes, e a mãe começou a insistir com ele para que fosse ao médico. Um antepassado seu tinha morrido nos anos quarenta de tuberculose, e a mãe estava muito preocupada. Por isso Pedro decidiu que ia ao médico, mais para descansar a sua velha mãe do que por vontade própria.
Naquele tempo não existiam os modernos meios de diagnóstico, nem especialistas de tudo e mais alguma coisa como hoje. Pelo menos na sua terra. Mas havia um médico que possuía um aparelho de radioscopia, no qual diziam que as pessoas se encostavam e o médico via logo o coração e pulmões. De modo que resolveu marcar consulta para esse dia, e por isso saiu mais cedo do escritório.
Chegou ao consultório faltavam quinze minutos para as cinco. A consulta estava marcada para as cinco.
Sentou-se na sala de espera e olhou em volta. Era uma sala simples, toda pintada de branco, com cadeiras a toda a volta, de madeira clara. Pinho, talvez. Numa das paredes o juramento de Hipócrates, numa imitação de papiro emoldurada. Na outra um quadro com uma floresta em tons dourados e vários pássaros esquisitos espreitando entre as folhagens.
Sentadas, sete pessoas aguardavam a sua vez. Uma mulher de meia-idade, de luto pesado, ostentava no dedo anelar duas alianças. Uma viúva – pensou Pedro. Depois três homens. Um deles com um grande bigode de longas guias retorcidas. Vestia bem e devia ter um grande orgulho no seu bigode. Ridículo, pensou antes de afastar o olhar para o seguinte. Este era um homem baixinho, de olhos pequenos e vivos. Vestia mal e tinha mãos grosseiras. Trabalhador de uma qualquer das quintas que existiam na zona, - deduziu. O outro era segurança da C.U.F., bastava ver a farda. Teria saído do trabalho directo para o consultório. A seguir uma mulher ainda jovem grávida.
Ostentava uma enorme barriga, que a julgar pelo tamanho estaria muito perto dos nove meses.
De cabeça encostada à parede, tinha os olhos fechados e uma cor macilenta. As pernas esticadas estavam anormalmente inchadas. Coitada, deve ser um sacrifício caminhar, - pensou.
A seu lado uma mulher mais velha, vestida de preto, passava-lhe de vez em quando um lenço pelo rosto. Apesar de não encontrar entre as duas grande semelhança, Pedro pensou que devia ser a mãe da jovem ou talvez, quem sabe, a sogra.
E finalmente a seu lado um jovem, talvez um pouco mais novo que ele. Era alto, magro, de grandes olhos escuros, rodeados por profundas olheiras violáceas. As suas mãos de dedos longos, não paravam quietas.

20 comentários:

esteban lob disse...

Se insinúa una historia interesante y multifacética, apreciada Elvira.

Gaja Maria disse...

Estou a gostar :)

O meu pensamento viaja disse...

Aguardando a continuação.
Bj

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Vamos lá a ver qual vai ser o "veredicto" do médico.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar

Os olhares da Gracinha! disse...

Gosto do seu jeito de descrever com alguma minuciosidade...bj

Os olhares da Gracinha! disse...

Gosto do seu jeito de descrever com alguma minuciosidade...bj

chica disse...

Que riqueza de detalhes descrevendo o ambiente de uma sala de espera...Lindo! Vamos aguardar! bjs, chica

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!


Isabel Sá
Brilhos da Moda

Berço do Mundo disse...

Aguardo os desenvolvimentos.

Anete disse...

Um capítulo cheio de bom suspense... Passo a passo acompanhando...
O meu abraço

Zé Povinho disse...

Cá estou no regresso anunciado...
Abraço do Zé

Edum@nes disse...

Pelo que li, suponho que o Pedro, é um bom observador. Enquanto aguardava pela sua vez de ser atendido pelo médico, tudo à sua volta, pessoas e objectos observou! Penso que vai ser um bom conto de vidas cruzadas. O futuro o dirá?

Tenha uma boa noite, amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Pedro Coimbra disse...

Vamos ficar à espera da consulta e do diagnóstico.

Os olhares da Gracinha! disse...

Obrigada pela sugestão do Santuário!
Vou conhecer!!! bj amigo

Dorli Ramos disse...

Oi Elvira
Estou logo querendo saber qual é a doença do rapaz bonito
Beijos
Minicontista2

Elisa disse...

Sempre por aqui! Um grande beijinho e bom fim de semana
elisaumarapariganormal.blogspot.pt

Erika Oliveira disse...

Estou acompanhando...

aluap disse...

Era um tempo em que havia os chamados "médicos populares", não sei se é o caso do médico que irá observar o Pedro.
Vou continuar a ler...

Smareis disse...

Boa noite Elvira!
Cheguei pra continuar lendo a história.
Gosto dos detalhes e da forma que você constrói as histórias. Os detalhes das pessoas da sala de espera tão bem tecido. Vamos ver nos próximos capítulos se o Pedro tem algum problema.
Ótima semana!
Bjs!

Rosemildo Sales Furtado disse...

Sala e pacientes muito bem descritos. Estou gostando e aguardando.

Abraços,

Furtado