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21.10.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XLVII



foto do Google


O mês de Junho começa com a segunda redução de direitos aduaneiros entre os seis.
A 8 desse mês Agostinho Neto é preso em Luanda. Várias manifestações de protesto são violentamente reprimidas. Dias depois Moisés Tshombé declara a independência do Katanga ou Catanga e acelera a guerra civil.
Pouco antes do meio do mês, De Gaulle propõe uma Argélia argelina ligada à França.
E a 16 dá-se a revolta de Mueda em Moçambique., da qual resultam cerca de 500 mortos.
Por essa altura no Barracão o Manuel encontrava-se a braços com um problema. O cunhado Luís, que ele trouxera da terra para cuidar dos filhos quando apenas tinha 9 anos e que crescera e fora tratado como um filho mais velho, enganara uma garota de 16 anos que se encontrava grávida. Assim sendo, Manuel não via outra alternativa que não fosse o casamento o mais rápido possível, mas o rapaz acabara a tropa havia dias, ainda não arranjara um trabalho fixo, e se os pais da garota não podiam ajudar, pois tinham mais 8 filhos, a vida dele não era melhor. Com a ajuda de uma vizinha idosa, que lhes cedeu parte da casa, de dois irmãos mais velhos da noiva, já a trabalhar e do irmão do noivo também a viver no barracão e a trabalhar na C.U.F., um pouco dos pais da noiva, e um pouco do Manuel, lá se fez o casório, e pouco depois o cunhado estava a trabalhar na Quinta do Anjo, e a mulher dava à luz uma linda menina.
A 20 de Junho os dois filhos do Manuel fazem anos. Nesse tempo, eles não comemoravam aniversário, já que o dia não era nem melhor nem pior do que os outros na maior parte dos anos.  Se havia uma galinha ou um coelho capaz de servir de refeição, o Manuel matava e a mulher fazia uma refeição um pouco melhor. Se não havia as crianças limitavam-se a “fazer anos”. Nesse mesmo dia Salazar encontrou-se com Franco, e realiza-se em Lisboa a primeira Feira Internacional de Lisboa. E o mês termina com a Independência do ex-Congo Belga.
A Independência da Somália a 1 de Julho é seguida de convulsões sociais em Itália.
 Por essa altura Eisenhower reduz em 95% as importações de açúcar cubano. A meados do mês Kennedy é designado pelos democratas candidato à presidência, proclamando o programa da nova fronteira e os Conselheiros soviéticos presentes na China são chamados a Moscovo.
Antes de o mês terminar, Fanfani regressa à presidência do governo italiano e De Gaulle e Adenauer encontram-se em Ramouillet para acordarem um projecto de concertação permanente europeia sobre a instituição de cimeiras.
Se o mês de Agosto em Portugal ficou marcado pela morte de Jaime Cortesão e pela visita dos reis da Tailândia a Lisboa, a nível internacional os jogos olímpicos de Roma, com inicio a 15 de Agosto, (os primeiros a terem cobertura directa pela TV, e que ficaram marcados pela morte do ciclista dinamarquês Knut Jensen, causada pelo excesso de estimulantes no sangue.) A Independência do Chipre no dia seguinte, a candidatura a chanceler de Willy Brandt e as várias Independências em África, como Daomé, Costa do Marfim, Chade e Gabão entre outras, chamaram a atenção do mundo.
Em Setembro surge no Porto para apoiar a candidatura da oposição nas eleições a Frente Eleitoral Independente. Um após outro, mais ou menos carregados os bacalhoeiros regressam à seca, e dentro em pouco iniciar-se-á nova safra. Nesse ano o Manuel foi o encarregado de avisar o pessoal que habitualmente trabalhava na seca e que morava em localidades vizinhas, como Barreiro, Baixa da Banheira, Alhos-Vedros, Santo António e Palhais.
Por esses dias o PAIGC envia declaração a Lisboa propondo negociações para a independência da Guiné e de Cabo Verde. Dias depois é aprovado o primeiro regulamento sobre o Fundo Social Europeu e a 23 Khruchtchev assiste a Assembleia Geral da ONU.
Com o mês de Outubro o mundo assiste à Independência da Nigéria no dia 1. E  à eleição de
Jânio Quadros como presidente do Brasil logo no dia 3.
No aniversário da República Tomás põe flores no túmulo de Manuel Arriaga nos Prazeres.  Mário Soares é de novo preso nesse dia. Ainda nesse dia um referendo na África do Sul aprova a saída da Commonwealth.
Com as comemorações Henriquinas em Outubro, são amnistiados Aquilino Ribeiro, Padre Abel Varzim e o comandante Moreira de Campos.
A 21 de Outubro de 1960, Portugal adere ao FMI
Em Novembro John Kennedy (um homem muito admirado pelo Manuel, vá-se lá saber porquê, já que os seus conhecimentos sobre ele e as ideias politicas, eram nulos) é eleito presidente dos E.U. da América.
E Dezembro ia a meio quando a Assembleia Geral da ONU aprova três resoluções contrárias à política colonial portuguesa.


Uma boa semana para todos.

27 comentários:

Anónimo disse...

Adoro ler-te e lembrar alguns acontecimentos que vivi.
Beijo.
isa.

Edum@nes disse...

Aumenta a fome na pobreza
A guerra ameaça de morte
Partiram na incerteza
Voltaram os que tiveram sorte!

No país das incertezas
Das esperanças perdidas
Soltaram as bestas
Comeram as plantas floridas!

Resto de bom domingo
para você, amiga Elvira,
um abraço
Eduardo.



Emília Pinto disse...

Com os pormenores que sempre pões no diário do Manuel, revejo-me em muitas desatas situações. Lembro-me de muitas e outras pude agora recordar. Também na minha caas muito tempo " só
o faziamos anos" não havia festa nem presentes; às vezes também só um assadinho no forno e nada mais. Muito obrigada, Elvira pelas lições de história que sempre acompanham a vida do Manuel. Um beijinho e uma boa semana
Emília

Maria disse...

Querida Elvira:
Estou sempre ansiosa à espera do novo capítulo. As viagens que faço! As recordações que acordo! A década de 6o, a nossa era, a mocidade. Está tudo aqui. E é bom recordar.
Continue, minha amiga.
Beijinho
Maria

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

É como reviver todo esse período, por sua excelente pequisa sobre os mais importantes acontecimentos políticos, paralelos à vida de Manuel.

Lembrei-me que eu desejava muito votar para presidente da república, mas ainda não tinha 18 anos, no dia 3 de outubro, completaria só no dia 16.
Continuarei acompanhando...
Um beijo, Elvira!

vendedor de ilusão disse...

Olá Elvira, bom dia!
Tuas postagens, como sempre, são estupendas!
Tenhas uma ótima semana!

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Oi Elvira!
Sempre ótimas suas postagens!
Fico sempre na expectativa!
Abraços,
Mariangela

Teté disse...

E a História a seguir o seu rumo, composta de pequenas histórias de todos os cantos do mundo e da de Manuel e a sua família... :)

Beijocas!

Luma Rosa disse...

Curiosa fiquei em saber quais eram as três resoluções.
Danadinho o Luis! Mais uma vez, Manuel ajeitando a vida dos demais!
Boa semana!! Beijus,

Kim disse...

Amiga Elvira!
Estas crónicas fazem-me sempre lembrar que já estou um pouco velhote. É que, todos este nomes me fazem viajar no tempo, alguns deles eu já não lembrava.
Meu Deus, como passou o tempo e como o mundo mudou.
Um beijinho

Anónimo disse...

Olá estimada Elvira,

Como está?
Fiz, apenas, uma leitura histórica do seu texto.

Desejo-lhe uma boa semana, na companhia dos seus e da Nita, obviamente.

Beijos com estima da Luz.

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

Tenho a certeza de, embora não houvesse "festa", havia muito mais "festas" para os filhos no dia do seu aniversário. É o condão do amor.

Beijos

Lilá(s) disse...

São sempre tão interessantes estas leituras históricas!
Estupendo Elvira.
Bjs

Vitor Chuva disse...

Olá, Elvira!

O mundo a viver a ritmo acelerado, um casamento feito à pressa, e o início das "dores de cabeça" de Salazar, para quem as colónias era províncias ultramarinas...

Até ao próximo;um abraço.
Vitor


São disse...

Continua -e bem- a lição de História.

Gosto desta sua nova foto, sabe?

Bons sonhos.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Sempre uma lição de história e acontecimentos que por vezes vamos esquecendo.

Um beijinho com carinho
Sonhadora

Unknown disse...

Confesso que gosto muito do que você escreve assim nessa espécie de crónica com muita história. Dá para aprender muita coisa e também lembrar-me de muita outra.

Permita-me dizer o seguinte: o Mário Soares devia ter continuado preso. O Kennedy não é o ídolo que muita gente quer acreditar que foi. Apesar de ter sido o primeiro e o único presidente católico dos EUA.

Abraço.

Olinda Melo disse...


Grande post, Elvira. Tempo de grandes mudanças, com as independências em África, sinal de que o mundo está a levar uma grande volta.

Kennedy, De Gaule, Adenauer, Quadros, o mundo continua a girar ao encontro do futuro...

Por cá, o Estado Novo. Américo Tomás a homenagear Manuel de Arriaga. Faz parte do sistema.

E a nossa adesão ao FMI. Sintomático..

E o Manuel lutando pela vida e aconchegando a família.

Obrigada

Bj

Olinda

Unknown disse...

Bom dia
Parte da história já me é contemporânea. As guerras em África e a declaração de independências foi.me muito familiar.
Recordo que ouvíamos os noticiários na rádio e todos os dias a mãe e a avó rezavam o terço pela paz no mundo.
Recordo elas dizerem que o pior ainda estava para vir...

lis disse...

Oi Elvira
Muito bom o texto.
Saber mais da história de Portugal é sempre curioso, eu aprecio.
Uma linda semana
meu abraço

vendedor de ilusão disse...

Olá Elvira,
Será extremamente honroso ter sua participação! Por favor, envie um texto seu!
Abraço.

Paulo Cesar PC disse...

Elvira, sua narrativa, engloba também a lembrança de acontecimentos marcantes no mundo. Fatos que foram marcantes e, até mesmo, decisivos na história da humanidade. Além de ler a narrativa que é o enfoque desse conteúdo, podemos também nos certificar de momentos que entraram para a história na humanidade. Um beijo no seu coração.

Duarte disse...

Agrada-me imenso o modo como nos trazes esta narrativa, como quem vê um telejornal no que desfilam feitos que lhe foram afins.
Profusão de detalhes de feitos empolgantes que ou se recordam ou induzem à investigação.
Os meus parabéns por um trabalho tão bem feito.
Um abraço bem grande

Nilson Barcelli disse...

Em 1960 quase ninguém festejava os aniversários.
Não havia dinheiro nem o costume para essas coisas de ricos...
Elvira, tem uma boa semana.
Beijo.

AC disse...

Lá fora o mundo a mudar, em constantes convulsões, na seca o Manuel continuava a luta do pão para os filhos...
Excelente relato, Elvira!

Beijo :)

Isamar disse...

E assim vai prosseguindo a história do Manuel e da sua família neste conturbado mundo.Gostei muito, mais uma vez.

Beijinho

Bem-hajas!

BlueShell disse...

Sou ignorante...há tanto que não sei....
Obrigada por me lembrares...
Bj
Bshell