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20.7.12
FESTIVAL DE MOTOS
Não, não se trara da concentração de Faro. Apenas associei o vídeo à data. Com ele desejo-vos um excelente fim de semana e umas boas férias para quem as tem.
Peço desculpa pela ausência, e informo que as postagens e visitas normais, só depois do dia 4 de Agosto, muito embora eu sempre dê uma voltinha pelos vossos blogues sempre que possa.
TUDO DE BOM PARA VÓS.
15.7.12
BLOGAGEM COLETIVA. - AMOR AOS PEDAÇOS - A REINTEGRAÇÃO
CAROLINA
A mulher que sentada na beira da cama se entregava à tarefa de entrançar a sua farta e negra cabeleira, não teria mais de 30 anos,
embora algumas pequenas rugas a fizessem parecer mais velha.
Era muito bonita, talvez um pouco alta demais para o comum das
mulheres portuguesas, mas muito bem proporcionada. Muito morena de cabelos e
olhos negros. Na aldeia quando era menina, e as outras crianças por qualquer
razão se zangavam, chamavam-lhe farrusca por causa do seu tom de pele. Ela
crescera com esse desgosto, mas agora estava na moda aquela cor e não raras
vezes ela notava os olhares de inveja que lhe lançavam.
Lançou um breve olhar sobre o berço onde um bebé dormia tranquilamente.
Hoje era um dia especial. O menino ia ser batizado. Não haveria festa, o
dinheiro era escasso, a vida estava muito difícil. Mas para ela o dia em que o
seu menino ia ser apresentado ao altar e purificado com o sacramento do altar
seria sempre um dia especial.
Acabou de entrançar o cabelo e enrolou a trança no alto da
cabeça prendendo-a com ganchos.
Alisou a saia rodada que lhe chegava a meio da perna, dobrou
um velho pedaço de lençol impecavelmente limpo em triângulo como se fosse um
lenço, dobrou outro pedaço igual de modo a ficar como uma tira que colocou por
cima do anterior, ficando assim com as fraldas preparadas para mudar o menino
quando ele acordasse. Debaixo da cama retirou uma caixa que colocou em cima da
mesma. Lá dentro repousava o vestidinho de crepe azul que a madrinha entregara
na véspera para o seu afilhado.
Foi até à cozinha,
pegou as malgas do pequeno-almoço que tinham ficado a escorrer e guardou no
armário. A cafeteira de alumínio foi pendurada na grade de madeira na parede.
A casa era pequena, apenas o quarto e a cozinha, mas apresentava-se
limpa. No quintal, separada da casa alguns passos, uma pequena divisão, com uma
sanita e um chuveiro. Claro que era aborrecido que não estivesse ligada à casa,
especialmente de noite e de inverno, mas ainda assim Carolina achava que tinha
muita sorte pois tinha água canalizada, coisa que algumas vizinhas no mesmo
pátio não tinham. Não tinha eletricidade, mas nunca faltara o petróleo para o
candeeiro.
Sentou-se de novo na beira da cama, junto ao berço do filho
e enquanto aguardava o marido que fora ao barbeiro à Telha, deixou que as
lembranças saltassem da gaveta das memórias, onde ela as trancara.
Carolina era a sexta filha de um casal já entrado na idade e
que já tinha cinco rapazes entre os vinte e os nove anos. Fruto de um descuido
do pai, a mãe que julgava estar na menopausa só se apercebeu da gravidez quando
já era demasiado tarde para a “pôr a estudar”.
A mãe falecera poucos meses após o seu nascimento, vítima de
complicações surgidas pós parto e o pai culpava-a pela morte dela. Os irmãos
não sabiam o que fazer com ela e não fora uma vizinha tomar conta dela, talvez
não tivesse sobrevivido. Não fora por isso uma criança desejada e muito menos
amada.
Mas como diziam na aldeia, “mal de quem vai, quem cá fica,
trambolhão daqui, trambolhão de ali, tudo se cria”
Quando Carolina entrou na adolescência mostrava já que iria
ser uma bela mulher, e aí começou nova luta, já que os irmãos (diziam que ela
estava uma bela franguinha e o mundo estava cheio de gaviões) e não a deixavam
pôr o pé fora de casa, e ela tinha ansias de liberdade. Entretanto o pai
faleceu, os dois irmãos mais velhos casaram e foram viver para a cidade grande,
o terceiro casara e fora viver com o sogro na aldeia vizinha. Na velha casa de
família restava ela e um dos irmãos, já que o mais novo estava na tropa. Farta
daquela vida, escrevera aos dois irmãos pedindo para ir viver com eles na
cidade, mas não recebeu resposta.
Então começou a juntar algum dinheirito, do que o irmão lhe
dava para as compras da casa, e um belo dia de Verão fugiu de casa rumo a
Lisboa. Acabara de fazer 14 anos mas o seu corpo era já o de uma mulher.
Em Lisboa arranjou trabalho numa casa grande onde já havia
uma cozinheira e uma outra rapariga que tomava conta dos bebés. Aí trabalhou 2 anos,
gostava da casa, dos meninos e das colegas. Aos patrões demasiado altivos nunca
se afeiçoou, mas sentia-se feliz. Até ao dia em que conheceu Jorge e se
enamorou perdidamente.
Conheceu-o numa das suas folgas enquanto passeava no Jardim
da Estrela. Ele não era de Lisboa, estava na capital a cumprir tropa. Virgem de
todas as emoções foi presa fácil do rapaz vivido e malandro que era Jorge.
Assim quando se deu conta ele tinha desaparecido e ela estava grávida. Os
patrões puseram-na na rua mal souberam da gravidez, e Carolina perdida, sem
saber o que fazer foi bater à porta do irmão mais velho.
Influenciado pela mulher o irmão acabou por a recolher em
casa, embora inicialmente a quisesse mandar de novo para a terra. Porém por
volta do 4º mês Carolina sofreu um aborto espontâneo e daquele episódio apenas
restou a amargura e a descrença nos homens. Poucos meses depois estava de novo
a trabalhar como “criada de servir” numa casa em Belém.
Passaram os anos, vieram outros namoros, mas quando ela
dizia que já não era virgem, a atitude dos rapazes mudava, deixavam de falar em
casamento e passavam a querer levá-la para a cama. Ela foi ficando cada dia
mais amarga e perdendo a esperança noutra vida que não aquela de cuidar de casa
alheias e filhos dos outros. E assim
ficou até aos 27 anos. Umas idades em que naquela época as mulheres já não
sonhavam com a maternidade contentavam-se em serem tias. Foi nessa altura que
conheceu o marido. Foi à saída da igreja que as suas mãos se tocaram na pia da
água benta. Olharam-se por segundos e sentiu-se corar.
Virou-se e saiu da igreja quase a correr. Ele seguiu-a e
quando ela se preparava para entrar no jardim da patroa segurou-a num braço e
perguntou se ela era casada. Perante a negativa ele perguntou se ela queria
casar com ele. Ela achou a pergunta descabida e sem sentido mas ele insistiu.
Sem saber o que pensar, ela respondeu-lhe que embora não
sendo casada, já não era virgem.
Ele respondeu que não fora isso que perguntara apenas queria
saber se ela queria casar com ele. Era pobre, mas tinha trabalho certo, vivia
com uma irmã, estava farto da vida de solteiro, tinha acabado de pedir ao
Senhor uma boa companheira, achara que o encontro na pia de água benta era um
sinal divino e não lhe importava o passado, já que esse era individual e
pertencia só a ela. O que lhe importava era o presente, e queria saber se ela
faria parte dele.
Não falava de amor, sabia que ele chegaria com o tempo e o
futuro a Deus entregava.
Carolina ficou encantada, e três meses depois estavam
casados.
Apesar da pobreza não se arrependera nem por um segundo.
- Lina estás pronta mulher? Já aqui estão os padrinhos do
menino.
Sacudiu a cabeça, e o seu rosto iluminou-se num sorriso
enquanto respondia.
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BLOGAGEM COLECTIVA,
Os meus contos
10.7.12
MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XLII
Logo após a proclamação do novo Presidente da República, Humberto Delgado tenta implementar um movimento político que prosseguisse a ação política desenvolvida durante a campanha. É criado o Movimento Nacional Independente, sendo a sua política baseada na proclamação que Humberto Delgado dirigiu ao país no início da campanha eleitoral para as presidenciais.
Na véspera de Santo António, iniciam-se greves, algumas
delas espontâneas, em várias empresas da zona de Lisboa e Margem Sul, como
protesto contra os resultados eleitorais. Foi o rastilho que incendiou a
indignação popular e levou ao início de várias greves por todo o País.
5.000 Pescadores de Matosinhos fazem-na durante vários
dias, exigindo a redução do preço do gasóleo. Seguem-se os conserveiros da
Fábrica Unitas, e logo se seguem a Fabrica Gargalo, a Bordalo, e a Garantia,
que não somente pedem aumento de ordenado, como protestam contra a fraude
eleitoral. Entretanto corre o boato de que Salazar foi demitido e os trabalhadores
da Valfar em Vila do Conde, paralisam em sinal de regozijo.
Enquanto prosseguem as greves, o Ministério do
Interior divulga uma nota sobre as “tentativas
de paralisação de trabalho em alguns pontos do país nomeadamente em Almada,
Vila Franca de Xira, e os pescadores de Matosinhos.
Na véspera do S. João, os operários da Empresa Fabril
do Norte, da EFACEC e da Fábrica Marinhos, na Senhora da Hora, concelho de
Matosinhos, fazem greve e manifestam-se na rua, em protesto à burla eleitoral e
às prisões de democratas que participaram na campanha eleitoral
Enquanto Portugal se via mergulhado na maior
contestação decorria na Suécia o Campeonato do Mundo em Futebol.
A 25 de Junho a Direção política do PCP apela à greve e
lança a Jornada Nacional de Protesto para os dias 1, 2, e 3 de Julho.
A 29 de Junho realiza-se a final de Campeonato do Mundo
de Futebol. Estiveram presentes na final o Brasil e a Seleção anfitriã. Embora
a Suécia tivesse marcado primeiro, cedo o Brasil deu a volta e o
resultado final de 5- 2 foi bem expressivo para uma final. Foi a primeira vez
que o Brasil venceu a competição, mas o jogo ficou na memória de quem o viu
pelo talento revelado por um jovem de 17 anos, que dava pelo nome de Pelé, e
que muitos anos mais tarde viria a ser considerado por muitos amantes do futebol, como
o maior jogador da história do futebol.
No Barracão, o Manuel está feliz porque a filha mais velha ficou
bem no exame da 4ª classe.
Boas férias para quem está de férias e bom trabalho a quem está trabalhando. Para todos o meu desejo de que sejam felizes
6.7.12
MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XLI
Humberto Delgado saudando a multidão no Porto.
Foto da net
Na Seca a safra já tinha
terminado e o pessoal que ali trabalhava todo o ano, voltara à rotina de
reparar tinas, caiar armazéns, reparar arames partidos e cortar o canavial. Um dos cunhados do
Manuel estava na tropa, e o outro conseguiu por esses dias empregar-se na CUF,
e embora continuasse a viver no barracão, como trabalhava no turno da noite,
dormia de dia, e Manuel deixou de contar com a sua ajuda. Os filhos estavam na
escola. A mais velha ia todos os dias para o Barreiro, já que na Telha a escola
era só até à 3ª classe. A Gravelina cuidava da casa, e da criação que entretanto
fora conseguindo, e por vezes dava uma ajuda na rega. Mas ele não gostava muito
de a ver no quintal. Ela continuava com problemas de saúde. Agora de vez em
quando tinha uns ataques que ninguém a segurava. Os vizinhos já falavam que ela
devia ter algum “encosto”, alguma promessa que decerto os pais fizeram e não
cumpriram e agora andavam a atormentar a filha.
Manuel não sabia se havia
de acreditar ou não. Mas lá que eram una ataques esquisitos eram. No último
esteve largos minutos desacordada e depois de repente, começara a gritar,
rasgara a roupa, arranhava-se e mordia-se e ele aflito até mandara as crianças
para casa do cunhado, para elas não verem assim a mãe. Depois que recuperou,
andou quase uma semana prostrada e sem forças. Agora estava bem mas e até
quando?
No 1º dia de Maio, a
Comissão Central da União Nacional decide rejeitar a reeleição de Craveiro
Lopes e propor a candidatura de Américo Tomaz.
Uns dias depois são
desencadeadas várias greves políticas que mobilizaram mais de 50 000
trabalhadores. A 10 desse mês, em conferência de imprensa no Café Chave de
Ouro, Humberto Delgado afirma que se for eleito demite Salazar. Enquanto isso
Américo Tomás entrega o processo da sua candidatura no STJ.
Dias depois, Humberto
Delgado visita o Porto, é entusiasticamente recebido por uma multidão de 200 000
pessoas. Porém quando regressa a Lisboa, a manifestação de apoio que o
aguardava em Santa Apolónia, foi reprimida pela polícia. Também o comício
realizado a 18 desse mês no Liceu Camões foi rodeado de fortes medidas de
segurança pelas autoridades.
A 29 de Maio o comício de
Humberto Delgado em Almada termina com o pacto de Almada, no qual Arlindo
Vicente desiste da sua candidatura em favor de Humberto Delgado.
Se o mês de Maio foi efervescente o de Junho não foi
mais calmo. Desde logo porque as eleições realizadas no dia 8 de Junho, “deram”
a vitória a Américo Tomaz o candidato do regime.
BOM FIM DE SEMANA PARA TODOS ESTEJAM OU NÃO DE FÉRIAS.
ESTA HISTÓRIA VOLTA PARA A SEMANA
ESTA HISTÓRIA VOLTA PARA A SEMANA
1.7.12
MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XL
O primeiro dia de 1958 ficou marcado pela entrada em
vigor do Tratado de Roma, instalação em Bruxelas da comissão da CEE, presidida
por Walter Hallstein, e da comissão da CEEA, presidida por Louis Armand
Em Portugal, um grupo de antigos candidatos a deputados
do Porto encarrega o arquiteto Artur Andrade de falar com Humberto Delgado e
começar a preparar a campanha para as eleições. Porém a oposição não estava
unida, na escolha do candidato, e assim enquanto uma parte apoiava Humberto
Delgado, a outra realizava um comício de apoio a Cunha Leal.
A meio desse mês
um ciclone varreu toda a Seca. O barracão ficou sem telhado e a chuva encharcou
tudo o que lá estava dentro. Felizmente que as crianças estavam na escola e o
Manuel e a mulher no trabalho, o que fez com que pelo menos não houvesse danos
físicos.
Com pena do Manuel, que não tinha como comprar telhas para cobrir o barracão, o gerente da Seca deu-lhe umas placas de lusalite, iguais às que cobriam os diversos armazéns, e o Manuel lá pôs o “telhado” com a ajuda do cunhado e de um vizinho. Foi uma trabalheira, mas à noite o barracão estava coberto. Apesar disso, nessa noite dormiram no chão, enrolados em sacos de sarapilheira, daqueles onde se ensacava o bacalhau, já que toda a roupa ficara encharcada, e até os colchões de palha de centeio teriam que ser esvaziados e a palha posta ao sol para secar.
Com pena do Manuel, que não tinha como comprar telhas para cobrir o barracão, o gerente da Seca deu-lhe umas placas de lusalite, iguais às que cobriam os diversos armazéns, e o Manuel lá pôs o “telhado” com a ajuda do cunhado e de um vizinho. Foi uma trabalheira, mas à noite o barracão estava coberto. Apesar disso, nessa noite dormiram no chão, enrolados em sacos de sarapilheira, daqueles onde se ensacava o bacalhau, já que toda a roupa ficara encharcada, e até os colchões de palha de centeio teriam que ser esvaziados e a palha posta ao sol para secar.
A 30 de Janeiro, num jantar republicano no Porto, foi
decidido que o candidato que fosse às urnas, teria que ir até ao fim, não
poderia desistir na última hora, e no dia seguinte, três mil pessoas participam
numa sessão comemorativa do aniversário do movimento 31 de Janeiro.
Nesse mesmo dia, é lançado o primeiro satélite artificial norte-americano, Explorer.
A 21 de Fevereiro, o Egito e a Síria instituem a
República Árabe Unida e no dia seguinte são entregues ao Reino Unido 60 mísseis
norte americanos com ogiva nuclear.
Dois dias antes do
aniversário do Manuel, Francisco Cunha Leal anuncia a sua decisão de não se
candidatar à Presidência da República, alegando motivo de doença, e no dia
seguinte a candidatura de Humberto Delgado é oficialmente registada no Supremo
Tribunal de Justiça.
Precisamente no dia do seu
aniversário é anunciada a candidatura de Arlindo Vicente à Presidência da
República. Dias depois a União Nacional assinala a passagem dos 30 anos de
governo de Salazar, organizando manifestações de apoio.
Boas Férias para quem está de férias e bom trabalho para quem trabalha.
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