Querida Sofia.
Não sei se ainda te recordas de mim, já passaram tantos anos, mas hoje como em milhares de vezes, lembrei-me de ti.
Vive em mim a saudade, dos tempos em que vivíamos sonhando com o futuro e aquilo que queríamos da vida. Das noites em que deitadas no escuro, contávamos em surdina segredos que eram só nossos.
Tu vivias sonhando com o Quim, eu… nunca te confessei, mas vivia suspirando pelo teu irmão, numa paixão de adolescente, que passou anos mais tarde quando conheci o homem da minha vida.
Naquela época, tu dizias que eu era a irmã que não tinhas. Eu, a viver afastada da minha irmã de sangue, amava-te de igual maneira. Foram anos maravilhosos.
Mais tarde, testemunhaste o meu casamento. E se eu estava radiante, tu estavas duplamente feliz. Por mim, e por ti, que vias finalmente o teu amor de sempre pelo Quim retribuído. Depois a vida afastou-nos.
Um dia estava eu em Moçambique, a minha irmã escreveu-me uma carta, contando que te encontrara. Estavas casada e a tratar do passaporte para te juntares ao Quim que tinha emigrado para a França, em busca de uma vida melhor. Corria o ano de 1971.
Nunca mais soube de ti. Interrogo-me, porque a vida consegue separar assim,
duas pessoas que partilharam um amor tão grande? Embora nunca chegues a ler
esta carta, amo-te minha amiga, minha irmã.
A tua
Elvira