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17.1.15

NOTÍCIAS

Peço me desculpem a ausência, mas continuo doente.Adoeci no dia 3 depois de uma crise de refluxo, que me provocou tosse alérgica. Depois de uma primeira ida às urgências, não ter resolvido o problema fui na segunda feira a uma consulta. Fui bem atendida a médica era a minha médica de família que me mandou continuar com alguns dos medicamentos receitados antes e me acrescentou o Codipront, pois depois de demorada auscultação não detectou nada a nível de pulmões ou brônquios. A tosse seca alérgica é uma velha "amiga" que raramente deixa passar um ano sem me visitar. Só que é tão brutal, que sempre desencadeia outras coisas pois não me deixa comer nem dormir e ao fim de poucos dias estou de rastos. Desta vez despoletou-me uma crise de sinusite, deixou-me completamente sem voz durante 3 dias e por fim quando já estava francamente melhor, e já tinha recuperado a voz, provocou-me uma inflamação na articulação do maxilar e como não chegasse uma conjuntivite, pelo que tive de voltar ontem à médica que me receitou isto, e me disse para evitar estar em contacto com outras pessoas e principalmente crianças porque a conjuntivite é altamente contagiante.



 "E se não estiver melhor na Segunda feira telefona-me que eu marco-lhe uma consulta para voltar a observá-la".
E enquanto eu tento pôr-me boa, desejo-vos um bom fim de semana, e deixo-vos com um pequeno poema, que não é novo, mas acredito a maioria de vós não conheça


                                 O MAIS DIFÍCIL



O mais difícil
hoje
não é sonhar
ainda que
o sonho
seja pérola negra
aprisionada
na ostra
do quotidiano.

O mais difícil
hoje
é inventar a Vida
no espaço agónico
da sobrevivência.


elvira carvalho

12.1.15

BRUNO


                     Reprodução de parte de um afresco de Pisanello




Três horas da madrugada. No quarto às escuras um homem, está sentado na cama, com a cabeça entre as mãos. De vez em quando um ronco surdo quebra o silêncio em que a casa está mergulhada. Bruno sabe que é o pai no quarto ao lado. Desde menino habituou-se a ouvir aquele ronco. É-lhe tão familiar que há muito deixou de o ouvir. Ou pelo menos, não chega para lhe perturbar os pensamentos. Que diga-se em abono da verdade, são bem perturbadores. Bruno é um homem jovem. Completou à pouco vinte e sete anos. Baixo, faltam-lhe alguns centímetros para o metro e sessenta, e isso, sempre foi um pesadelo para ele. Porque apesar do rosto perfeito, ele sempre estivera abaixo da média em altura. Desde a escola, onde os outros meninos, lhe chamavam, anão, ou meia-leca. Ou mesmo quando rejeitavam a sua presença nos jogos do recreio. As crianças podem ser extremamente cruéis sem se darem conta, nem deixarem cair o sorriso.
Bruno foi crescendo sentindo-se rejeitado por uma sociedade que avalia os homens em centímetros e não pelo carácter. Aos 16 anos apaixonou-se por uma colega de escola. Levou todo um período a ensaiar as palavras para se declarar. E ela riu-se dele. Desde esse dia a revolta instalou-se-lhe no peito, e como erva daninha foi devorando tudo de bom que havia nele.
Aos 19 anos abandonou os estudos. Era bom aluno mas perdera todo o interesse pelos estudos. Foi considerado inapto para a tropa.
Por essa altura o irmão mais velho casou-se e foi viver para os arredores. Pouco depois o pai emigrou para a França. Era um bom carpinteiro, arranjara um contrato muito atractivo, e seria a hipótese de conseguir ganhar um bom dinheiro e construir a casinha com que sonhava, já que o terreno lhe deixara um tio em testamento.
Sem o pai e o irmão mais velho, Bruno sentiu-se amputado de parte de si mesmo. Como se precisasse de bengalas para caminhar, e de repente lhas roubassem.
Ia de casa para o trabalho e do trabalho para casa.. Não falava com ninguém, a não ser no trabalho nos assuntos que precisava tratar com os colegas. Não gostava de ler. Os livros retratavam personagens completamente opostos ao que ele era. Os filmes a mesma coisa. Odiava futebol, porque lhe recordava a exclusão que sofrera por parte dos colegas em criança.
Dia após dia, Bruno caía no poço sem fundo da depressão.
A mãe, era boa pessoa, mas não entendia o que se passava com ele. Às vezes dizia-lhe para sair, se divertir, que parecia um velho. Bruno encolhia os ombros e não respondia.
Uns meses atrás o pai terminara o contrato de trabalho em França e regressara cheio de planos para a tal casinha.
Estranhara ver o filho tão macambúzio, mas pensara. ”É muito jovem, tem a vida pela frente, aquilo passa-lhe.” Ainda assim disse-lhe:
-Ó rapaz vê lá se arranjas uma namorada. Olha que na tua idade eu já era vosso pai.
Um mês depois o irmão fora pai, e os pais, viviam “babados” nas gracinhas do neto.
Bruno sente um enorme apelo para a suicídio.Há meses que pensa nisso. A ideia de suicídio, chegou de mansinho,e  quase sem ele dar por isso foi-se insinuando a toda a hora. Pensa que seria o remédio certo para todos os seus medos, as suas angústias.Um ponto final, numa vida sem história. Como se fosse um sinal, no quintal o galo canta. Bruno põe-se de pé e de mansinho, abre a porta da cozinha e sai. No céu estrelado uma redonda e esplendorosa lua derrama para o quintal, uma luz intensa.  Ao fundo a casa das ferramentas. No meio do quintal um pilar de ferro, donde parte um arame que passa pelo terraço por cima da casa de ferramentas. O estendal da roupa. Como um autómato, vai à casa das ferramentas e sai com uma corda e um pequeno banco. Faz um laço numa das pontas, passa-a pelo pescoço, sobe para o banco, amarra bem a outra ponta no pilar de ferro, e depois de tudo pronto, sem hesitação, derruba o banco.
Nesse momento uma nuvem encobre a lua, e a escuridão cai sobre a madrugada. 



Elvira Carvalho


Continuo doente. Amanhã vou de novo ao médico. 

9.1.15

VENHO CONTAR-TE ESTRANGEIRO


Venho contar-te estrangeiro


Venho contar-te estrangeiro
do meu país
Portugal
Aos teus olhos de estranho vou mostrar
as aldeias esquecidas de Trás-os-Montes
onde os campos raquíticos não dão pão
Terras, só terras, sem água, sem luz
sem escolas
sem homens
que já se cansaram da fome
herdada
desde longínquas gerações.

Venho contar-te estrangeiro
do meu país
Portugal.
Aos teus olhos velados pela cegueira
das campanhas turísticas.
Aos teus olhos que erram pelas praias
banhadas de sol.
Venho contar-te estrangeiro
As horas de incerteza e de angústia
vividas pelo meu povo
que pela fome, o mar tornou seu escravo.
E...venho contar-te mais
desta terra onde nasci...
Onde os homens nascem
vivem
e morrem
sem consciência de terem vivido.
Terra de homens-escravos
do tempo
das máquinas
do dinheiro.
Sacos de pancada
da própria vida.


Venho contar-te estrangeiro
do meu país
Portugal.
Deste país que já não é só de poetas
porque um dia
um punhado de homens acordou
quebrou as amarras do medo e lutou.
Era Primavera e os cravos floriram.
Na terra dos homens-escravos,
A Revolução nasceu.


 Mas, hoje...
quando o desalento mata a esperança
quando o desemprego cria raízes no meu país
e o meu povo envelhece desiludido
olhando as pétalas secas dos cravos.
Hoje...
Quando os homens se esquecem dos sonhos
e voltam a ser escravos.
Hoje, estrangeiro
como eu queria acordar este país
com a revolta que me rasga o peito
e gritar
EU AINDA QUERO 
UM PORTUGAL DIFERENTE





Iniciei mal o ano de 2015 a nível de saúde.  Ontem recorri a uma consulta de urgência fui medicada e embora esteja longe de estar boa, estou um pouco melhor.