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30.3.08

POESIA NO FEMININO

Inicio hoje um ciclo de poesia, de de poetas femininas (desculpem, mas embirro com o termo poetisas, que me dá uma sensação de menoridade) que se prolongará enquanto a minha situação actual não me deixar tempo, nem disposição para escrever alguma coisa de jeito. E começo este ciclo com alguém por cujos poemas sou uma apaixonada. Alda Lara. Toda a gente conhece Prelúdio magestralmente interpretado por Paulo de Carvalho, com o titulo de Mãe-Negra, mas muitos não saberão que se trata de um poema de Alda Lara. Vou tentar colocar ali ao lado essa canção. E vou deixar-vos aqui um outro poema de Alda Lara, menos conhecido mas nem por isso menos belo. Espero que gostem.

TESTAMENTO


À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...

E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhamdo algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...

Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...

E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.

Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...

Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,

Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...


Alda Lara nasceu em Benguela a 9 de Junho de 1930. Fez os seus estudos primários e secundários em Angola, tendo, porém, terminado o curso liceal já em Lisboa.
Frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, concluindo nesta última a sua formatura.
Casou com o Dr. Orlando de Albuquerque, também médico e escritor.
Faleceu muito nova, contando apenas 31 anos de idade, no dia 30 de Janeiro de 1962.
Os seus versos foram reunidos num volume intitulado POEMAS, publicado por seu marido em 1966.
Mais tarde, em 1973 saíu o segundo livro "Tempo de chuva"
(Biografia elaborada com recurso ao livro "ALDA LARA, breves considerações sobre a sua obra" de Morão Correia.

24.3.08

PÁSCOA FELIZ


Para todos os que passam por esta casa, uma Santa e Feliz Páscoa.


Embora possa parecer, eu ainda não estou maluca. O video que estão a ver, e que apareceu esta noite, foi mandado do You Tube no dia 20. Mas parece que veio a pé pela serra... só apareceu agora.
APROVEITO PARA PEDIR DESCULPAS PARA A MINHA AUSÊNCIA E FAZER A PROMESSA DE QUE SEMPRE QUE POSSA EU OS IREI VISITAR, MESMO QUE SEM DEIXAR COMENTÁRIOS. e AGRADECER TODO O CARINHO DEMONSTRADO POR MIM E PELO MEU QUERIDO PAI. MUITO OBRIGADA.


E não é que o vídeo desapareceu outra vez? Parece magia.

12.3.08

BELEZA E MOVIMENTO

Na última Sexta-feira tinha escolhido este vídeo para o fim de semana, mas não consegui e tive que escolher outro. Hoje ao entrar no blog, tinha três vezes o mesmo vídeo. Tentei apagar 2 e o terceiro desapareceu também. Vamos lá a ver se consigo postar este. E pedir desculpa pela minha ausência, que se deve a motivos de saúde. Espero voltar breve.

8.3.08

8 DE MARÇO -- DIA DA MULHER



Porque hoje é o dia da Mulher, mas é também um dia de luta, de professores, e de pais, e de alunos, e de todo um povo, para quem a Educação é cada vez mais um retalho, a compôr a manta, onde já se encontram, a Saúde, a Cultura, a Segurança, o Desemprego, e a Fome, escolhi para mim, e para vós, não um cravo, nem uma rosa, mas uma flor bem mais simples, e nem por isso menos colorida e bela. A papoila, singela, mas forte, capaz de brotar no terreno mais inóspito, mesmo entre rochas. E um poema de Vinicius de Morais, que entendo apropriado para o dia e momento actual. Espero que gostem. E se possível tenham todos UM BOM DIA

O Desespero da Piedade

Meu Senhor, tende piedade dos que andam de bonde
E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...
Mas tende piedade também dos que andam de automóvel
Quantos enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.

Tende piedade das pequenas famílias suburbanas
E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam
E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina

Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta
Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina
Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte
E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.

Tende imensa piedade dos músicos de cafés e de casas de chá
Que são virtuoses da própria tristeza e solidão
Mas tende piedade também dos que buscam o silêncio
E súbito se abate sobre eles uma ária da Tosca.

Não esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram
E para quem o suicídio ainda é a mais doce solução
Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram
E tornam-se heróicos e à santa pobreza dão um ar de grandeza.

Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos
Quem em suas alminhas claras deixam a lágrima e a incompreensão
E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão
Que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vão...

Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros
Que se efeminam por profissão mas são humildes nas suas carícias
Mas tende maior piedade ainda dos que cortam o cabelo:
Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!

Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapataria
Quem lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo
Nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.

Tende piedade dos homens úteis como os dentistas
Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer
Mas tente mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia
Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.

Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos
Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.

E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tenha piedade das mulheres
Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

Tende piedade da moça feia que serve na vida
De casa, comida e roupa lavada da moça bonita
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
Que o homem molesta — que o homem não presta, não presta, meu Deus!

Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais
Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação
E sonham exaltadas nos quartos humildes
Os olhos perdidos e o seio na mão.

Tende piedade da mulher no primeiro coito
Onde se cria a primeira alegria da Criação
E onde se consuma a tragédia dos anjos
E onde a morte encontra a vida em desintegração.

Tende piedade da mulher no instante do parto
Onde ela é como a água explodindo em convulsão
Onde ela é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como a lua parindo desilusão.

Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas
Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
Mas tende piedade também das mulheres casadas
Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas
Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.

Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas
De corpo hermético e coração patético
Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçadas
Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
E que têm a única emoção da vida nelas.

Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
Ter piedade de si mesma e da sua louca mocidade
E outra, à simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.

Tende piedade, Senhor, das santas mulheres
Dos meninos velhos, dos homens humilhados — sede enfim
Piedoso com todos, que tudo merece piedade
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!

7.3.08

UM ESPECTÁCULO DE FORÇA E BELEZA....





Recebi este vídeo por mail... obrigada MAR por ele. E porque o achei muito bom, decidi partilhá-lo convosco. Espero que gostem. Tinha pensado postar um outro vídeo do You Tube, mas por mais que tentasse não consegui. Espero não ter mais logo o blog invadido pelos vídeos todos que tentei.

E PORQUE HOJE É SEXTA, DESEJO A TODOS UM EXCELENTE FIM DE SEMANA