Esplanada do Baleizão. A foto é da net, desconheço o autor.
Maria Paula deu o primeiro
desgosto aos pais quando completou o liceu e declarou que não ia estudar mais.
Ela adorava os pais, não era tão idealista como o pai, nem tão terra a terra
como a mãe, mas tinha ideias bem definidas do que queria para o futuro, e elas
não passavam pela entrada na Universidade. Assim rebateu um por um todos os
argumentos paternos e acabou levando a sua avante.
Começou a procurar emprego e
em breve estava empregada na secretaria do Colégio Cristo-Rei, dos Irmãos
Maristas.
Convém aqui dizer que
conseguiu o emprego por mérito próprio, e não por interferência paterna, pois
sabendo que o director era amigo do pai, não só escondeu dele o seu apelido
paterno até ter obtido o emprego, como não disse nada ao pai que ia lá à entrevista para obter emprego.
Já atrás disse que Maria
Paula era muito bonita. Mas era mais do que bonita. Era inteligente, simpática
e afável com toda a gente.
Tinha herdade da mãe o
requebro tão gracioso das mulatas, e da avó a graciosidade e exotismo, o que contribuía
para torna-la tão especial. Além disso os olhos verdes na pele morena era só
por si motivo suficiente para atrair o olhar de quem com ela se cruzava.
Estranho que sendo como era
Maria Paula não tivesse namorado, apesar de estar quase a completar vinte anos.
Em 73 Luanda era uma cidade cosmopolita,
onde não se pensava em guerra. Os meios
de informação não eram como hoje e o sistema fazia por mostrar ao mundo uma
cidade pacífica e feliz onde tudo era normal, e a maioria da população
portuguesa. Para isso contribuíram em muito, as mulheres dos militares de
carreira, estacionados em Luanda, a quem o governo pagava as passagens para que
estivessem com os maridos, não por eles, mas para espelhar a imagem de paz que
o governo queria dar. Claro que também havia jovens militares solteiros.
Muitos. Era só dar uma volta pela baixa, ou ir ao Baleizão tomar um café, para
ver a esplanada cheia deles. Mas a maioria desses jovens seguiam para campanhas
longínquas, onde a guerrilha fervilhava.
Em Luanda ficavam os
comandos gerais, o tribunal militar, os oficiais, e os militares necessários para
darem assistência nesses postos.
No Colégio Cristo-Rei, onde
Maria Paula se empregara as crianças eram na sua grande maioria filhos de altas
patentes militares, que desejavam que os seus filhos fizessem uma boa instrução
primária, que lhes permitisse ao completar a 4ª Classe, entrar para o Colégio
Militar em Lisboa.
Continua