Comemora-se amanhã a passagem dos cem anos sobre a implantação da República Portuguesa. Na cabeça dos revolucionários da época, ela já vinha amadurecendo como solução única para o País, há muito tempo. Em 1907 o chefe de Governo João Franco endurece posições após o abandono pelos progressistas do governo. As Cortes foram encerradas, a Câmara de Lisboa foi dissolvida, e as eleições adiadas. Por outro lado foram criados gabinetes de censura para controlarem a Imprensa. Isto originou uma onda de revolta que culminou com a greve dos estudantes em Coimbra. Os republicanos souberam aproveitar a seu favor a onda de ódio e revolta que grassava em vários sectores. Os enormes gastos da Família Real, num País onde a grande maioria do povo vivia com carências de todo o tipo, faziam com que o ódio ao Rei fosse ainda maior do que ao Chefe do Governo. A 27 Novembro de 1907 é elaborado um decreto cujo artigo 1º permitia ao Governo expulsar do reino, ou transportar para uma província ultramarina, aqueles, que fossem reconhecidos culpados pela autoridade judicial competente. Não podiam gozar de imunidades parlamentares aqueles que atentassem contra a segurança do Estado.
A 28 de Janeiro de 1908, republicanos e dissidentes monárquicos, fazem uma primeira tentativa de revolta que ficou conhecida como a “Intentona do elevador da Biblioteca”. O Governo conseguiu sufocá-la, mandando prender importantes chefes dos republicanos entre os cais se encontrava Afonso Costa e António José de Almeida.
A 31 de Janeiro de 1908 o ministro da Justiça recebe o acima citado decreto de 27 de Novembro, assinado pelo rei. Para uma Lisboa maioritariamente republicana, este documento era inaceitável. No dia seguinte D. Carlos I e D. Luís Filipe o Príncipe herdeiro eram assassinados no Terreiro do Paço.
João Franco é responsabilizado por com a sua politica contraditória e violenta ter contribuído pelo extremar de posições e pelo clima de revolta que culminou no regicídio, demite-se, sendo substituído a 4 de Fevereiro por um governo de aclamação presidido por Francisco Joaquim Ferreira do Amaral.
A 6 de Maio de 1908, D. Manuel II de apenas 18 anos, presta Juramento de novo rei perante as Cortes.
Foram 2 anos conturbados. Os sucessivos governos, e a impreparação do jovem rei levam rapidamente à ascensão dos republicanos apoiados cada vez mais por um povo e até pelos militares.
Na noite de 4 para 5 de Outubro de 1910 eclodiu o movimento revolucionário que levou à implantação da República. Surpreendido no Palácio das Necessidades onde dera um jantar em honra do Presidente da República do Brasil, o rei permaneceu no local, tentando conseguir a ajuda dos militares nomeadamente dos Regimentos de Artilharia 1 e Infantaria 16, mas estes já se tinham passado para o lado dos revolucionários. O rei retirou-se então para Mafra, onde esperou a sua mãe, a rainha-mãe D. Amélia e onde recebeu às 2 da tarde a notícia da implementação da República e do Governo provisório presidido pelo Dr. Teófilo Braga. A Família Real dirigiu-se para a Ericeira onde embarcou para Gibraltar, onde um barco de guerra inglês os transportou ao exílio.
Comemoram-se amanhã cem anos sobre a data. A verdade é que a grande maioria do povo, continua insatisfeito, sem emprego, e faminto de pão e Justiça. E o Reino (perdão) a República continua a gastar de mais. E mais grave ainda é que não se vislumbra nenhum movimento, revolucionário ou não que ponha cobro a este estado e nos dê alguma esperança.