Seguidores

25.10.14

ROSA PARTE VII

Mais calma, lembrou-se dos ensinamentos da avó, devota de Nª Senhora do Rosário. Abriu o cesto e, embrulhado num lencinho branco, lá estava o terço de contas meio gastas de tantas e tantas vezes passadas entre os dedos rugosos da avó. Ajoelhou e pondo a alma em cada oração rezou como nunca o fizera na vida. Uma vez e outra e outra até adormecer de cansaço.
Vá-se lá saber se foi coincidência ou intervenção divina, mas no dia seguinte apareceu na casa um homem jovem, que ao vê-la, se engraçou por ela. E depois de uma  breve conversa, lhe perguntou se queria casar com ele. Ela pensou que ele era um anjo mandado pelo céu e aceitou na hora. O homem falou então com a dona do bordel, que lhe disse que se queria levar a rapariga tinha que pagar 20 escudos pois fizera gastos com ela dos quais não ia ver retorno. O homem prometeu voltar ao anoitecer com o dinheiro, pedindo que, entretanto, a rapariga se recolhesse ao quarto e não fosse vista por outros homens.
Vinte escudos em 1946 era muito dinheiro, mas o homem voltou ao entardecer com a quantia pedida. E Rosa saiu daquela casa, com as suas velhas roupas, algum temor no coração mas também com muita fé num destino melhor.
João, assim se chamava o homem, trouxe-a até ao mar onde apanharam um barco para o Barreiro, pois era aí que ele trabalhava e morava. Rosa nunca tinha visto o mar e tremeu de medo os trinta e cinco minutos da travessia. Por medo do mar, por vergonha do homem que a “comprara”, porque ela achava que fora isso que acontecera, por temor do que o homem poderia fazer, Rosa nem se atrevia a falar.
Quando finalmente saíram do barco, o homem pegou no cesto dela e disse:
-Anda, vamos ter que caminhar ainda um bom bocado. Mas não tenhas medo, já falei com a minha irmã e dormes lá hoje. Amanhã vou procurar uma casinha para os dois e
depois vamos falar com o padre.
 Ela assentiu com a cabeça e começou a segui-lo. Caminhavam por um sítio de terra batida, junto ao mar, mas aquela parte do mar era estranha, pois não tinha água. Ao manifestar a sua estranheza, o homem explicou que aquilo não era mar, era o rio Coina, afluente do Tejo, que a maré estava vazia, e quando a maré vazava só ficava o lodo. Depois, começava a encher de novo e levava seis horas até a água chegar àquela orla por onde caminhavam agora. Com a ingenuidade de uma criança, ela perguntou:
- E para onde vai a água do mar quando vaza?
Ele soltou uma gargalhada e respondeu:
- E alguém sabe?
Depois, talvez para encurtar o caminho, começou a fazer perguntas sobre ela. Donde era, se não tinha família, como é que tinha chegado até ali.
- Por vergonha, ela limitou-se a dizer o nome da  sua aldeia e que não tinha ninguém na vida
-Landeira? Mas isso é muito perto da minha aldeia. Eu sou da Trapa, pertencemos ao mesmo concelho.


Continua na Terça-Feira


33 comentários:

lis disse...

E felizmente ela consegue desviar daquele caminhozinho estranho que ia se meter ... rs
E não é todo dia que a gente encontra um rapaz a nos convidar para casar, hem? se fosse nos tempos de hoje ela 'tava roubada' rsrs
_estou adorando esse conto Elvira
inseriu um toque generoso na vida da pobre Rosa,
Deixo um abraço

vieira calado disse...

Olá, como está?
Dou-lhe notícias cá do sitio:
COMEÇOU O VERÃO!
Estamos agora, melhor, que em Agosto!

Beijinhos!

Unknown disse...

Uma surpresa esta mudança na vida da pobre moça.
Parece que estava à espera do seguimento da vida dentro do bordel e as reacções próprias de que vem a fugir de uma aldeia e marcada por um passado de dor e desgosto.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

bem, aqui há uma reviravolta que gostei, mas, esperamos então a continuação.

isto promete!

:)

Isamar disse...

Terá a Rosa encontrado um anjo? Aparentemente tudo indica que sim mas também pode ser o início de mais uma dura etapa na sua vida. Há pessoas para quem o destino traça os caminhos mais sórdidos que existem. Vamos ver! Há horas de sorte! Beijinhos

Olinda Melo disse...


Cara Elvira

Li com agrado os capítulos anteriores e vejo que a nossa amiga Rosa já vai ao encontro do seu destino. Bom, mau?
Embarquemos neste suspense... :)

Muitos parabéns pela sua participação no "2º Prosas Poéticas". Gostei muito.

Respondendo ao seu comentário lá no Xaile: A minha ausência deveu-se a alguns afazeres inadiáveis. Obrigada

Bj

Olinda

chica disse...

Tomara dessa vez,Rosa tenha sorte. Deve ter algo na trama pois são do mesmo lugar!!! Vamos aguardar!! bjs, chica

Emília Pinto disse...

Bem...alguma coisa estranha vai aparecer!!! Não será ele um dos rapazes que a violou? Bem...se for, penso que se irá redimir e a Rosa terá sorte. De qualquer modo para gastar tanto dinheiro com ela, parece-me que o rapaz tem boas intenções. Vamos ver, mas espero que sim. Até à próxima, Elvira e um bom fim de semana
Beijinhos
Emília

Laura Santos disse...

Esperemos que a Rosa encontre alguém sem malícia e que a sua tão dura vida encontre um destino feliz e mais sereno....Mas será que vai ser assim?...Esperemos pelo resto da história, muito bem contada, Elvira.
xx

Edum@nes disse...

Tendo a Rosa rezado pela sua vida,
apareceu o anjo salvador
tirou do bordel a menina bonita
por 20 escudos teria sido leal por comprador?

Caminhando junto do Rio Coina,
cujo o local a Rosa desconhecia
que não tenha sido mais uma tramóia
mas, sim tenha encontro amor, felicidade e alegria!

Um abraço e bom fim de semana para você amiga Elvira,
Eduardo.

Luma Rosa disse...

Oi, Elvira!
Lembro de ter lido a história de Rosa em outra ocasião, mas não me lembro como foi o final.
Quanto sofrimento para alguém que pouco sabe da vida! Torcendo para que tenha um final feliz!
Bom fim de semana!

Vitor Chuva disse...

Olá, Elvira!

Este mundo dá muitas voltas e estranhos encontros acontecem. E com ele a vida da Rosa parece ter levado novo rumo.Vamos ver o que acontece!

Um abraço e bom fim de semana.
Vitor

Contos da Rosa disse...

oi Elvira, escreves muito bem.

Li os capítulos antes desse e me senti instigada a continuar lendo e querendo saber mais. Já estou torcendo por Rosa e curiosa para saber o que vai acontecer e o que o homem pretende.

abraços

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
ESTOU ADORANDO,
SERÁ QUE A ROSA VAI SEDAR BEM OU VEM MAIS SOFRIMENTO POR AI.
TENS MUITO TALENTO AMIGA.
ABRÇS
zilanicelia.blogspot.com.br

Maria disse...

Desta vez acredito mais que seja uma viragem positiva...mas voltarei para confirmar...estou a gostar muito Elvira!
beijinhos
Maria

Anónimo disse...

Infelizmente, a história desta Rosa dos finais dos anos 40, é muito comum (ainda) a muitas Rosas dos tempos de hoje.

A fé e a esperança por dias melhores...
talvez sim talvez não. Nem sempre os finais felizes acontecem.

Parabéns mais uma vez. Continuarei a passar por este cantinho, Sexta-Feira de seu nome. ;)

Tudo de bom.

São disse...

Esperando a continuação...


Bom final de semana, linda

Nilson Barcelli disse...

Gostei da reviravolta que deste à história quando a rosa estava perto do precipício.
De resto, a qualidade de sempre, isto é, a tua narrativa é cada vez mais apelativa para o leitor.
Venham os próximos capítulos...
Bom fim de semana, querida amiga Elvira.
Beijo.

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Deus permita que agora a Rosa seja feliz...Voltarei para constatar Elvira!
Beijos!
Mariangela

Andre Mansim disse...

Olá Elvirinha!
Sabia que esse conto poderia muito bem se passar no Brasil. Essa relação de escravo de prostitutas e pessoas que compram essas meninas e as tiram de bordéis, é igualzinho aqui.
Deve ser assim em quase todo mundo, mas existem lugares em que a mulher vale menos que um animal, geralmente onde religiões ultra ortodoxas mandam no governo.

Belo conto por enquanto!

Tenha um lindo final de semana, minha amiga!

António Querido disse...

Há aqui algumas coincidências, mas elas acontecem em qualquer história de vida!
Quanto mais acompanho a história da Rosa, mais curioso estou, ou então estou a transformar uma história, num filme real! Será?
Espero os próximos episódios...
Com o meu abraço.

Duarte disse...

Gostou tanto, que voltamos a tê-lo como leitura neste inicio do novo curso. Já te irei dizendo coisas.
Como segue a ideia de editar?
Como vão as tuas aulas?
Abraços de vida

RENATA CORDEIRO disse...

Será esse o anjo de Rosa? Gostei da reviravolta.
Fico aguardando.
Beijo*

esteban lob disse...

¡Vaya Elvira!

Sospecho que esa cercanía de las localidades, tendrá gran importancia en la trama futura.

Un abrazo austral para ti.

manuela barroso disse...

Não tendo acompanhado o enredo desta narrativa, confesso que fiquei presa quer à fluidez dos diálogos quer à história que envolve quadros infelizmente tristes mas reais e que por ser verosímeis se fica em suspense...
Não é fácil nem comum, esta vivacidade na narrativa
Por isso , até Sexta Feira, Elvira
Bji meu!

lourdes disse...

Será que apareceu à Rosa um anjo ou um demónio?
Vamos esperar para ver o que lhe vai acontecer.

NeusaMarilda disse...

Bom dia! Vim conhecer um pouco de seu trabalho literário e agradecer sua visita e comentário na Mostra do Viviani. Aqui em seu espaço há excelentes trabalhos.Bj.

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, aparentemente a Rosa teve uma luz surgida repentinamente que lhe vai trazer a felicidade, certamente alguma coisa vai mudar na vida da Rosa, será mais um obstáculo que vai ter que ultrapassar.
AG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

ONG ALERTA disse...

Ardosa vai conseguir, beijo Lisette,

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Tudo está indicando que o caminho de Rosa vai entrar nos eixos. Tomara!

esteban lob disse...

Hola Elvira:

Tengo la mayor admiración y agradecimiento por Google, pero desconozco de donde salen sus traductores, quienes al menos en idioma español son calamitosos.
Creo que Goggle necesitaba alguno y recurrió a un aparecido de la calle que con suerte estuvo alguna vez por 10 minutos en un país de habla hispana y se desempeña con lo aprendido allí en ese brevísimo tiempo.

Abrazo.

esteban lob disse...

AGREGADO AL COMENTARIO.

Sospecho que posiblemente las traducciones se generen en forma automática, pero ello demostraría que en ese ámbito falta mucho por perfeccionarse.

jorge esteves disse...

Porventura saberíamos muitas outras coisas se soubessemos para onde vai a água do mar...
(a fluidez do seu contar é espantosa, já lho tinha dito?!...)
Abraço.